terça-feira, 27 de julho de 2010

Perdão

Alguns dias se passaram e com eles muitos jogos também.
Aquele dia tinha tudo pra ser bom, teríamos um jogo muito importante, se ganhássemos aquele jogo estaríamos na final do campeonato brasileiro.
Algumas semanas já haviam se passado e o que eu sentia por Branca não parava de aumentar, ao mesmo tempo que eu estava muito feliz por tê-la ao meu lado eu estava ficando mais triste por saber que ela iria embora dali a três dias.
Eu não podia acreditar naquilo eu não podia crer que ela iria embora e me deixaria ali com todo aquele amor me destruindo por dentro, e ao mesmo tempo me fortalecendo. Mas agora eu não podia pensar nisso tinha uma semifinal de campeonato em minhas mãos e tudo que eu mais queria era vencer, nem todo amor do mundo conseguiria tirar aquilo da minha mente.
Acordei cedo, logo que o sol raiou, fiz as mesmas coisas de sempre, pelo menos as mesmas coisas que eu fazia ultimamente, passei direto pela Gabbi, sem nem cumprimentá-la e entrei no quarto do CH pulando em cima dele.
- Acorda moleque, já tá na hora de você ir pra escola que vida boa é essa – Disse pulando em cima da cama dele.
- Sai daqui Claus, eu to de férias, me deixa dormi vai, que horas são? - aquilo que saia da boca dele nem parecia ser uma voz de tão arrastada que era, ele realmente estava com fome, mas eu não ia deixá-lo em paz até que ele levantasse dali.
- Já são seis e meia, tá na hora! – Disse rindo da cara de nervoso que ele fazia. – Eu vou tomar banho, e se quando eu voltar você ainda estiver ai deitado eu vou tacar um...
- Claus para com isso, deixa o menino dormi em paz, vai fazer suas coisas. – Disse minha mãe olhando com cara feia da porta. – Se fosse ele fazendo isso com você, ele já teria levado uns bons tapas que eu te conheço, então para de encher o saco dele e sai daí.
Resolvi obedecer a minha mãe, meu irmão levantaria daquela cama com certeza. Fui até o banheiro tomar um banho pra espantar aquela preguiça que tomava conta do meu corpo todo dia pela manhã.
- Claus! – Ouvi a voz do meu irmão gritando do lado de fora do banheiro.
- O que é CH? Eu não acabei ainda, espera um pouco! – Todo dia de manhã era a mesma coisa, ele batia naquela mesma porta me mandandoeu andar rápido, e hoje não seria diferente.
- Eu não quero entrar ai, é que tem alguém lá na porta, e acho que você gostaria de atender...
- Quem é que está lá? - fiquei esperando pela resposta que não chegou, então resolvi sair logo do banho, e ir ver quem estava a minha espera.
Lá parada no portão de minha casa estava ela, linda como sempre, mas não imagina o motivo que a tinha levado a ir a minha casa, ela sabia que minha irmã não gostaria de vê-la.
- Branca? - Disse sem esconder o espanto em minha voz – O que faz aqui?
- Nossa Claus, parece até que está espantado em me ver, se estiver eu posso voltar depois. – Disse ela me fazendo sentir mal.
- Não, não é isso, entre, vamos lá em cima no meu quarto.
Assim que entrei em casa com ela minha irmã passou por nós e saiu, apresentei Branca a minha mãe e subi para o quarto. Sentei na cama junto a ela, e perguntei.
- Então, o que fez você vir aqui a essa hora da manhã? - Perguntei curioso.
- Claus, tenho que conversar serio com você. – Ela tinha um tom triste na voz.
- Fala, pode falar, estou aqui pra te ouvir, estava com saudade de você, não te vi ontem, você não apareceu.
- É que eu estava criando coragem pra te dizer o que eu vim falar. – O jeito com que ela falava estava me deixando tenso. – Meu técnico, ele deu uma ordem a todos nós do time...
- Sim, e o que eu tenho ah ver com essa ordem? Que ordem foi essa?
- Ele nos proibiu de ter qualquer relação com outros atletas, relações... Amorosas, se você me entende, ou seja, eu e você... Nós... ér... não vamos poder mais ficar juntos. – Ela disse isso com lagrimas nos olhos, e eu...Eu não tinha palavras pra dizer naquela hora, as lagrimas rolavam pelos meus olhos como os raios de sol que invadiam meu quarto.
- Mas... Você... Não vai, fazer... Fazer isso. Vai? - Eu perguntei já sabendo a resposta, se ela não fosse obedecer aquela ordem nunca teria ido até lá para me contar.
Acho que a única coisa que eu podia fazer naquele momento era chorar, nada mais era possível, eu estava paralisado, congelado. Ela olhou pra mim e saiu correndo do quarto, a única coisa que ouvi foi a porta bater e minha mãe subir correndo.
- Filho? Claus! O que aconteceu? Claus? Fala comigo! – Ela não parava de gritar, estava realmente preocupada comigo, mas na posição que eu tava eu não conseguiria nem me mexer, muito menos falar.
Fiquei alguns minutos parado pensando, até que reuni todas as forças que eu tinha e falei.
- Não é nada não mãe, não precisa ficar preocupada, é que eu e a Branca, isso... Isso não existe mais. Acabo.
Eu me levantei, peguei minha mochila e sai de casa. Tinha que achar alguma coisa pra fazer, pensei em ir pro ginásio mas ela podia estar lá e eu não queria encontrá-la, então fui pra pracinha, tinha uns amigos da seleção jogando vôlei e eu resolvi jogar junto com eles para me distrair.
Fiquei algum tempo jogando, até chegar a hora do almoço quando eu teria que parar, pois deveria descansar para o jogo de mais tarde.
Depois do almoço fui me concentrar no vestiário do ginásio, fiquei ouvindo musica e tentando esquecer tudo que tinha acontecido. Fiquei lá, sozinho, por mais de uma hora até que alguém aparecesse, logo todos os meus companheiros estavam reunidos, cada um no seu canto, concentrando para o jogo.
Cerca de meia hora antes do jogo um dos meus fones caiu, e como eu já não aguentava mais ouvir musica eu chamei a atenção de todos.
- Se a gente está aqui, é porque a gente merece, vocês concordam? - Todos balançaram a cabeça – E não só nós, como todos que virão aqui daqui a pouco sabem que nós podemos ir muito mais longe do que essa semifinal. Então vamos pra cima deles com tudo, a gente vai ganhar, e mostrar pra eles quem é que manda aqui. – Todos que estavam dentro do vestiário começaram a gritar, e o a se arrumar pro aquecimento.
Eu nunca tinha me sentido tão bem antes de um jogo, nada podia me atrapalhar, eu tinha certeza de que eu voaria naquele jogo. O meu aquecimento foi perfeito, na rede eu cravei todas as bolas, isso só aumentou a minha confiança.

O jogo começou e como eu esperava estava sendo o jogo mais difícil até o momento, mas eu estava jogando muito bem. Estava com cem por cento de aproveitamento, todos os meus ataques tinham se convertido em pontos.
O primeiro set estava quase na nossa mão, a nossa defesa jogou a bola pra cima, o levantador botou uma ótima bola pra mim e eu vim voando da linha dos três metros por cima do bloqueio, a bola foi direto pro chão sem chance de defesa pra equipe do Espírito Santo, que era nossa adversária.
O jogo não vinha sendo fácil, e o primeiro set tinha acabado de 25 x 23 pra nós, o segundo estava caminhando pro mesmo resultado, e foi o que aconteceu, o placar foi o mesmo, e o último ponto também foi meu.
Então começou o terceiro set, aquele era o set que nos separava da final, eu estava louco de vontade de acabar aquilo logo e ir pra arquibancada ver quem seria o nosso adversário.
Foi quando aconteceu.
Eu vi passar pela porta do ginásio ela, Branca. Meu coração gelou, tudo que eu estava sentindo pareceu mudar completamente, senti uma onda de insegurança, nervosismo, mas resolvi voltar pro jogo.
O set começou bem, apesar de eu ter errado o meu primeiro ataque a gente estava ganhando de três á um. O set continuou e meu aproveitamento não tinha aumentado muito, de todos os ataques que eu dei apenas um passou do bloqueio, e eu não tinha como negar que vê-la não tinha me feito bem.
Chegou o tempo técnico, e meu técnico me chamou pra conversar.
- Claus, o que está acontecendo? Seu aproveitamento caiu drasticamente, vou te tirar um pouco OK?
Eu não respondi, na verdade não tinha resposta, eu sabia que aquilo era o melhor pra equipe, mas ao mesmo tempo eu não queria sair nem um segundo sequer, mas eu aceitei a opinião dele. O jogo recomeçou, e eu sai de quadra, quando fui para o banco ouvi alguém me chamando.
- Claus, Claus.
Olhei pra ver quem era, parada acima de mim nas arquibancadas estava a minha irmã, e eu já ia me virar de volta por jogo, pois não queria brigar, quando ela disse.
- Eu não quero brigar com você, só queria que você soubesse que eu te amo, e que o que eu fiz foi uma estupidez eu tenho que aprender a te respeitar. – Eu não respondi, mas sorri pra ela.
As palavras da minha irmã me deram força novamente e eu voltei a confiar em mim, chamei meu técnico onde eu estava e disse.
- Naldo, eu melhorei já, estava passando meio mal, mas se precisar eu melhorei, só queria que soubesse.
O terceiro set foi deles, mesmo com a minha saída a seleção estava abalada e a derrota foi inevitável, mas no quarto set o Naldo disse que me colocaria novamente, e como eu era o capitão e todos costumavam me ouvir decidi falar.
- Eu sei que não dei um bom exemplo no último set, mas eu estava me sentindo mal, eu espero que eu volte, e se eu voltar vamos ganhar esse set, e se eu não voltar vamos ganhar do mesmo jeito. – Todos juntamos nossas mãos no meio e gritamos o grito de guerra, os aplausos surgiram em massa no ginásio, a multidão que acompanhava o jogo gritava eufórica.
Logo que o set começou eu chamei o jogo pra mim, na primeira bola do jogo eu dei um ataque tão forte que a bola deixou uma marca vermelha nos barcos do libero, logo depois daquele ponto eu apontei pra minha irmã, pois se aquilo estava sendo possível era por causa dela.
O quarto set foi o mais fácil do jogo todo, e ganhamos com facilidade. Eu estava muito feliz, nem pensava mais na Branca. Sai de quadra e me juntei a minha família e a meus amigos na arquibancada.
A segunda semi-final foi entre a seleção mineira e a seleção catarinense. Foi um jogo bom e a seleção mineira ganhou de três sets a dois, o amigo da Branca o Deco, ele jogava muito bem e fez vários pontos no jogo.
Minha mãe foi pra casa na frente com meu irmão e eu e a Gabbi ficamos pra trás, eu por que queria conversar com o Vinicius, o levantador do meu time, e a minha irmã por que estava doida pra falar com um menino que eu não fazia ideia de quem era.
Vinicius era da minha cidade e era um dos meus melhores amigos, ele era o levantador titular da seleção pernambucana e tinha percebi que algo vinha acontecendo comigo desde hoje mais cedo.
Ficamos algum tempo conversando, na verdade foi mas ele me ouvindo e eu falando, mas era disso que eu precisava. Precisava de alguém que me ouvisse, sem reclamar do que eu tinha feito ou iria fazer, e isso o Vinicius sabia fazer, e muito bem.
- Cara, já ta ficando tarde, eu vou indo, até amanhã, e brigado por meu escutar. – Me despedi dele, virei as costas e sai atrás da minha irmã.
Não foi muito difícil de encontrá-la, mas quando á achei não quis atrapalhar o que ela estava fazendo e fui embora dando um aceno de cabeça.
Minha casa não ficava muito longe do ginásio, na verdade minha casa era perto de tudo, até por que em uma cidade daquele tamanho não era muito fácil haver algo longe.
Andei alguns minutos admirando a Lua Cheia que brilhava lá em cima no céu, cheguei a esquina e virei, vi algo que preferia que nunca tivesse visto, mas eu vi.






Se aquela parte não seria a mais difícil de lembrar, seria uma das mais difíceis, eu não queria passar por aquilo novamente apesar de saber que era preciso.
Levantei-me decidido a não lembrar daquilo e acabar de uma vez por todas com aquela dor que me corroia por dentro, aquela dor que consumia toda a minha felicidade, se é que ainda restava algum pingo ali dentro.
Agora eu estava decidido a me jogar passei pro outro lado do parapeito da ponte, olhei lá pra baixo e vi o forte rio passando rapidamente por baixo de mim.
Um barulho. Um carro, percebi que ele se aproximava, voltei pro lado da ponte que eu estava antes e me escondi atrás da mureta que servia para separar a parte dos carros da parte dos pedestres.
- Claus! Claus! – Aquela voz, eu não queria mais ouvi-la, nunca mais, ela me fazia lembrar. Lembrar de coisas que eu nunca queria ter vivido.

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