terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tudo que é bom...



Os raios de sol tocaram com força a parte de fora dos meus olhos, tudo que eu pude ver quando os abri, eram borrões vermelhos com pontos coloridos. Não sabia

muito bem onde eu estava, olhei ao redor, e antes mesmo de poder ver uma imagem fiel, percebi que continuava na montanha.

Com o tempo, minha visão foi melhorando e percebi que estava deitado no colo da Branca. Levantei sem querer acordá-la e fui até onde estavam nossas roupas, remexi por um tempo até encontrar o celular dela. Esperava encontrar o marcador do relógio em algo parecido com cinco e meia da manhã, pro meu espanto, já eram nove horas e provavelmente todos estavam a nossa procura.

- Meu amor, meu amor. – falei no ouvido dela, que nem se mexeu. – Branca! Acorda amor. – falei dando um beijo na bochecha dela.

- Ainda é cedo mãe, eu quero dormir mais cinco minutos.

- Eu agora pareço a sua mãe é? – disse rindo e abraçando-a

- Nas atitudes eu diria que sim, vem dormir junto comigo.

- Branca. – ela abriu um dos olhos – Já são nove e meia da manhã, a gente não pode mais ficar aqui. Temos que voltar pra cidade, ou sentirão nossa falta, se já não sentiram.

- Nove e meia? – disse ela assustada – O meu vôo parte às onze horas, meu deus do céu.

O meu vôo parte às onze horas, essa frase ficou latejando em minha cabeça, por mais que eu soubesse que ela teria que ir embora um dia, eu não esperava, e muito menos queria que esse dia fosse aquele. Fiquei sentado olhando-a se arrumar, vestir as roupas, pra irmos embora.

- Então é isso? Você vai embora hoje, e a gente... – minha voz morreu.

- Se dependesse somente de mim, - ela fez uma pausa e chegou mais perto de mim – você pode ter certeza de que nunca iria embora daqui.

- Eu sei disso, mas mesmo assim, saber que nós podemos não nos ver nunca mais... É horrível.

Uma lágrima escorreu pelo meu olho. Branca veio se aproximando de mim, e me abraçou. Ficamos ali no silêncio, por alguns minutos, que poderiam ter durado para sempre que eu não reclamaria. Eu não suportaria a pressão de não poder vê-la. Por fim, decidi não pensar muito nisso, e viver os nossos últimos momentos, já que eles eram os últimos, pelo menos por enquanto.

Voltamos de mãos dadas para a cidade, e logo que chegamos os nossos celulares tocaram. O meu era minha mãe e estava super preocupada comigo, ela gritava, brigava, mas por fim eu tinha certeza que ela estava era aliviada. O da Branca era a Helen, que estava desesperada, já que o avião estava a pouco mais de uma hora de decolar, e ela não tinha aparecido nem para arrumar a bolsa.

Deixei a Branca no hotel em que a delegação mineira estava e fui dar uma passada em casa, para mais tarde ir pro aeroporto, que ficava em outra cidade, com elas. Não demorou muito e logo estava sentado no sofá ouvindo mais um sermão da minha mãe, ela dizia a mesma coisa de sempre “você ainda vai me matar de preocupação” “ você tem sorte de ser meu filho, se fosse outra mãe você já estaria de castigo a muito tempo” “a culpa de você ser desse jeito é minha, eu devia era te enfiar a mão e...” e mais um monte de coisas que eu não presto muita atenção.

Depois de quase dez minutos e de meu ouvido estar inchado ela me deixou ir pro meu quarto e me arrumar, sem dar uma explicação decente sobre o que eu estava fazendo a noite toda, na verdade, eu acho mesmo é que ela já imaginava como minha noite tinha sido, ou pelo menos era isso que parecia.

- Mano? Onde é que você esteve a noite toda? – perguntou-me a Gabbi entrando no meu quarto e deitando na minha cama.

- Você tem certeza que quer mesmo saber? – disse envergonhado

- Se eu não quisesse teria perguntado? – disse ela ironicamente

- Tá bom... Eu estava na montanha que fica a beira do rio. – parei de falar como se

a explicação tivesse acabado ali, mas a Gabbi fez um gesto de cabeça me mandando continuar – Bom... Eu passei a noite lá com a Branca se é isso que você quer saber.

- Eu imaginei que fosse algo do gênero, mas foi bom?

- Você não quer saber os detalhes sórdidos também não? – disse eu ficando vermelho.

- Querer, querer eu quero, mas eu sei que você não vai falar, então deixa pra lá.

- Ainda bem que sabe né? Mas mudando um pouco de assunto, o que foi que rolou no lance do CH? Deu em alguma coisa ou a Aline ficou só enrolando ele mesmo?

- Por que você não pergunta isso a ele? Me contar as coisas você não quer, agora falou em perguntar você é o primeiro a fazer isso.

- Para de birra menina, me conta logo. – disse rindo

- Tá bom, mas você nunca me conta nada. – ela parou me encarou e depois riu me jogando na cama – Eu falei com ela, e nós estávamos certos, ela estava realmente interessada, mas ontem, a mamãe não deixou ele ficar na rua com a gente, ela trouxe ele pra casa a força, mesmo comigo pedindo muito pra ele ficar, mas ela disse que se eu insistisse muito quem viria pra casa era eu.

- Então quer dizer que não rolou nada? Eu tenho que dar um jeito nisso – parei de

falar e peguei uma calça jeans no armário – me lembra de falar com ele mais tarde. Eu tiro ele de casa hoje, nem que eu tenha que fugir pela janela. – falei rindo.

- Você não vai precisar fazer isso, é só você pedir pra dona Denise que ela deixa ele sair numa boa. Você é o queridinho dela, já passou a noite toda fora de casa e o máximo que aconteceu foi um esporo de dez minutinhos, se fosse comigo não queria nem ver no que ia dar.

- Você pode parar de bancar a coitadinha? Todo mundo sabe que a mamãe gosta tanto de você quanto de mim e do CH.

- Não vale à pena brigar por causa disso, mas o campeão ai vai fazer o que agora? Tá se arrumando todo.

- Eu combinei com a Branca de ir até Recife com ela, vou ficar no aeroporto com ela.

- Entendo... É dever de um anfitrião consolar os perdedores. – disse ela e começou a rir.

- Ótima piada essa sua.

- Muito obrigado.

- Eu fui irônico. – disse começando a me estressar com ela.

- E eu mais ainda.

Sai do quarto com minha camisa na mão e fui em direção ao banheiro, antes que nossa discussão virasse uma briga daquelas que nós já estávamos acostumados, mas que sempre me deixava mal. Quando cheguei no banheiro tive que esperar o CH abrir a porta porque ele sempre trancava quando ia tomar banho.

- CH, você ta afim de sair comigo e com a Gabbi hoje a noite? – perguntei pensando no que nós íamos fazer – Acho que a gente vai na pizzaria com a Aline e umas amigas da Gabbi, Vamos?

- Do jeito que eu tenho sorte é capaz de chover granizo, e também tem a mamãe, num sei se ela vai deixar? – disse ele desanimado.

- Eu to perguntando se você quer ir ou não, e não os problemas que a gente vai enfrentar, eu do um jeito neles. E ai, vai querer ir ou não?

- Se você conseguir resolver...

- Dá pra você me dizer sim ou não de uma vez, eu to com um pouco de presa. – disse colocando a escova de dente na boca.

- Tá bom, eu quero ir, que horas a gente vai?

- Antes da gente sair eu tenho que levar a Branca no aeroporto e voltar, então acho que lá pras 9 horas eu to de volta.

-Ta bom então, e se você não chegar aqui nesse horário eu juro que te mato. – disse ele saindo do Box e me dando um soco no ombro.

- Vai querer brigar comigo é? – disse revidando o soco e saindo do banheiro.

O sol estava de rachar e mesmo dentro de casa eu não conseguia ficar com camisa. Apesar de tudo o que estava acontecendo e que ainda irai acontecer eu estava estranhamente feliz, desci as escadas e fui à cozinha falar com minha mãe. Sentei na mesa e fiquei olhando ela lavar a louça, sempre que fazia isso era porque queria pedir alguma coisa, e ela logo pergunto.

- O que é que você quer dessa vez Claus?

- Já que você quer ser direta... – disse rindo – Quando eu voltar de Recife, tava pensando se eu poderia sair com a Gabbi e o CH, você deixa?

- Vou pensar no seu caso.

- Ah mãe, vai deixa a gente sair um pouco, o CH ta doido pra dar uma volta pela cidade, e a Gabbi ta merecendo né? Ela ganhou o campeonato Brasileiro mãe, deixa vai? – disse fazendo manha

- Tá bom filho, mas num tá na sua hora ainda não? Daqui a pouco o ônibus da Branca deve tá saindo, vai logo, vai.

- Obrigado mãe. – disse dando um abraço nela. – E não precisa me enxotar de casa

não, eu já to indo. – disse entre risos.

Quando cheguei à rua com minha blusa nos ombros senti um calor infernal, andei procurando as sombras e em pouco tempo já tinha deixado minha casa para trás. Não demorou muito e cheguei no Hotel em que a Branca estava hospedada, fui até a recepção e pedi para ligarem pro apartamento dela, Ela me mandou subir.

Quando entrei no quarto ela estava sentada na cama conversando com a Helen, cumprimentei a Helen primeiro e depois fui falar com a Branca, sentei do lado dela e nos beijamos.

- Cof-cof – Forçou a Helen para chamar nossa atenção. – Eu vou indo então, ver que horas nosso ônibus vai sair, fiquem a vontade, se é que já não estão.

- E precisa deixar esse daqui ficar a vontade agora, nunca vi ninguém mais folgado na minha vida. – disse a Branca fazendo a Helen rir.

- Haha, senhora graça você agora né?

- Deixa eu ir logo antes que eu crie a discórdia no casal. – disse ela e foi saindo.

- Agora que a gente tá sozinho... – comecei a dizer.

- Nem complete a sua frase seu Claus.

- Você nem sabe o que eu ia dizer.

- E nem quero ouvir o que sua mente pervertida está pensando.

- Nossa, que mal juízo que você faz de mim, só ia falar que a gente podia dar uns beijinhos.

- Claro... – disse ela sendo irônica.

Ficamos deitados na cama dela por um bom tempo, nos beijando, fazendo carinho e curtindo os últimos momentos que teríamos juntos, mas como tudo que é bom dura pouco, não se passou nem quinze minutos e a Helen voltou e disse que o nosso ônibus já estava saindo.




Chuva. Escuridão. Dor.

Eram somente essas palavras que eu conseguia pensar, a

chuva continuava apertando e a ponte balançava mais

do que nunca.

Raio.

Mais um raio caiu, e mais um e mais um, eles não paravam de cair, e cada raio que caía levava um lagrima minha.