terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Aline

A viagem pra Recife demorava em média uma hora e trinta minutos, e esse tempo era suficiente pra eu me apaixonar mais ainda pela Branca. Logo que entramos no ônibus a delegação masculina de Minas Gerais, que viajava no mesmo ônibus que a feminina, veio tirar satisfação comigo sobre o que eu estava fazendo lá. Bem, aquilo não foi muito agradável, mas com o técnico do nosso lado eles não causariam muitos problemas. Sentamos nas nossas poltronas e eu fiquei a olhando em silêncio.

- Cuidado pra baba não molhar sua bermuda! – disse a Helen me tirando do transe que eu havia entrado, ela foi pra poltrona atrás da nossa, e botou os fones no ouvido.

- Branca, posso ta fazer uma pergunta? – perguntei virando de frente pra ela.

- Claro que pode, hoje você pode tudo...

- Se você continuar me dando essa moral toda eu acho que esse ônibus vai ficar pequeno pra nós dois... Mas voltando ao que eu queria saber, ér... A Helen... Bem, quando eu briguei com você, eu e ela, a gente ficou, e você continua tratando ela da mesma forma, como se nada tivesse acontecido. O que ela fez não foi uma espécie de traição? Bem, não comigo, mas com a sua amizade?

- Muito pelo contrario meu amor, eu não queria que você soubesse mas já que você perguntou... Eu que pedi a ela que desse em cima de você, melhor alguém que eu conheça e cofie do que qualquer uma dessas piriguetes que estão espalhadas por ai. – disse ela mordendo meus lábios.

- Você tá me dizendo que ela só me deu aquele mole todo, porque você pediu a ela pra fazer isso? – perguntei ainda não acreditando muito naquela história.

- Isso mesmo Claus, ou você achou mesmo que eu trairia a minha amiga, e ainda por cima gostaria de um cara feio feito você? –disse a Helen me surpreendendo, já que eu imaginava que ela estava ouvindo música.

- Não precisa cuspir no prato que comeu só porque a comida não era a que você queria não Helen, - disse rindo – eu sei que eu sou feinho, mas não precisa esculachar não. – disse causando risos nas duas.

- Para com isso Clau, você não é feio, - disse a Branca me dando um beijo a cada frase que dizia. – se você fosse eu nunca tinha olhado pra você, até porque vamos convir que eu tenho um ótimo gosto.

- Nem tanto né? Aquele cara ali na frente é bem feio, na verdade é quase um monstrinho. – disse baixinho apontando pro Vern.

- Não fala assim dele que ele é meu amigo ainda. – disse a Branca fazendo um biquinho que eu adorava.

Depois de esclarecida aquela situação a Helen voltou para o lugar dela, e dessa vez realmente ligou os fones de ouvido. Eu e a Branca ficamos nos beijando, até que ela dormiu no meu colo e eu fiquei admirando o rosto dela, e vários pensamentos me vieram a cabeça.

Como seria Dalí pra frente? Eu não fazia a menor ideia de como eu poderia viver sem ela, sem aquele sorriso, sem aquele olhar, ou seja, sem ela. Alem do que, eu sinceramente não queria viver sem ela, eu me tornara dependente dela, ela tinha me viciado, e era um vicio que eu não tinha como manter. O tempo passou e com ele a distância até o aeroporto também, e quando chegamos eu a acordei com um beijo carinhoso nos lábios.

- Amor, acorda, – disse beijando-a novamente – que nós já chegamos ao aeroporto.

- Mas já? A gente saiu agora a pouco da sua cidade. – O olhar dela naquele momento representava exatamente o que eu estava sentindo, uma lágrima correu pelo olho dela, e eu a enxuguei com o dedo.

- Não fica assim, isso não é uma despedida eterna, é um até logo. – E no momento em que eu terminei de falar uma lágrima me saltou aos olhos, escorreu pela minha bochecha e tocou a testa da Branca.

- Como eu não me sentiria triste Claus, eu posso nunca mais te ver, eu posso passar o resto da minha vida sem saber o que é... – ela parou de falar e as palavras deram lugar às lágrimas que naquele momento nem eu nem ela fazíamos o menor esforço para segurá-las.

- Eu sei o que você está sentindo, eu estou sentindo a mesma coisa, mas nós não podemos deixar de ser otimistas, - disse sem convicção, já que nem eu mesmo acreditava naquilo que eu estava dizendo – quem sabe a gente ainda tem uma chance?

Antes que ela pudesse responder, um homem alto, de meia idade, com os cabelos grisalhos começou a falar na frente do ônibus, eu não tinha visto ele antes, então imaginei que fosse o representante da federação mineira de vôlei. Ele começou a falar algo sobre como seria o embarque da seleção e agradecia pelo vice-campeonato brasileiro que as duas seleções haviam conquistado, ele continuou falando por mais alguns minutos e eu não prestei muita atenção no que ele estava falando.

Logo que o representante, cujo nome era Marcelo, terminou de falar a delegação masculina começou a descer e quando todos já estavam fora do ônibus, o time da Branca esvaziou o ônibus e somente eu e ela ficamos para trás, nós nos olhamos e demos um último beijo, um beijo de despedida. Eu não poderia entrar no aeroporto, pois o meu ônibus saia poucos minutos depois, e era o único que iria para a minha cidade no resto do dia. Assim que nós descemos a Helen e o Deco vieram se despedir de mim.

- Claus, eu vou sentir sua falta, - disse a Helen me abraçando – qualquer dia desses vai lá pra Minas, ai a gente podia combinar de se ver de novo, eu, você a Branca e quem sabe algum amiguinho meu.

- Pode deixar, se eu tiver a oportunidade vou fazer de tudo pra ir ver vocês.

- Cara, me desculpa por qualquer coisa que aconteceu entre a gente, eu só queria proteger minha amiga... Eu achei que você fosse uma má pessoa, me desculpa tá?

- Não tem nada a ver não cara, deixa isso pra lá, a vida segue, mas agora eu tenho que ir gente, se eu ficar mais um minuto aqui vou perder meu ônibus e ai eu só vou ter como voltar pra casa amanhã de manhã.

Eu não me lembro bem o que foi que aconteceu nos momentos que se passaram, e sinceramente nem quero me lembrar. A viagem de volta pra minha cidade foi a mais longa da minha vida, muitas coisas passaram pela minha cabeça, e nenhuma delas realmente se fixou, foi como passar em um túnel de projeções, mas uma passagem tão rápida que não consegui ver nenhuma projeção com perfeição.

Depois de algum tempo de viagem o ônibus parou na minha cidade, e eu desci sozinho para o fim de tarde que me esperava, o mesmo fim de tarde de sempre, sem graça, sem diferença, sem nada pra fazer e sem ela, sem a Branca.

Fiquei parado no ponto de ônibus admirando o pôr-do-sol, e lembrando os últimos dias, os melhores últimos dias de sempre. Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de pensar no que passou, mas aquela situação era diferente, por mais que eu tentasse, por mais que eu me esforçasse era impossível esquecer de uma vez, eu não controlava os meus sentimentos, e mesmo que controlasse não iria querer esquecê-la, não daquele jeito.

O sol caiu, e a lua começou a tomar o lugar que a ela cabia no céu, foi então que me lembrei da promessa que tinha feito ao meu irmão, e voltei a realidade, fui pra e quando cheguei ele já estava tomando banho e a Gabbi já estava terminando de se arrumar.

- Achei que não vinha mais, que tivesse ido embora junto com ela, - disse ela meio sem expressão. – você sabe que se fizesse isso mamãe se mataria né?

- É, eu sei, e foi só por esse motivo que eu não fiz ainda.

- Nossa, quer dizer que por mim e pelo CH você já tinha ido embora a muito tempo? – perguntou ela fingindo um falso ressentimento.

- É claro que não sua boba, eu gosto de vocês, tanto quanto gosto da mãe, e deixa de frescura tá? Eu vou lá apressar o CH senão a gente não sai de casa hoje, ainda tenho que tomar banho...

O banheiro, como sempre, estava um calor insuportável, o CH adorava tomar um banho quente e que demorava horas e horas. O espelho e o box já estavam todo embaçados e havia fumaça para todo canto.

- CH?! Você ainda esta vivo ai dentro? – perguntei brincando com ele.

- To sim Claus, e já to saindo, da pra você espera um pouco? – disse ele irritado.

- Eita menino, calma, eu só fiz uma pergunta, não precisa responder com essa grosseria toda não, ta nervoso porque vai encontrar com a Aline ai fica atirando pedras em todo mundo? – disse segurando o riso

- Aline? Quem é Aline? – Eu devia ter fechado a porta antes de falar, se minha mãe imaginasse que o CH estava indo sair com uma garota era capaz de ela surta, o queridinho dela, o caçula, por quem ela tinha mais ciúme, ele nunca teria uma namorada, isso se dependesse dela, mas como não dependia...

- Aline é o nome de uma cadela da amiga da Gabbi, e o CH morre de medo dela. – disse inventando a desculpa mais esfarrapada que eu já tinha feito na minha vida.

- Sei... Claus, e nada de passar a noite fora de casa hoje de novo, nem pense em fazer uma coisa dessas comigo menino, eu acho que tenho um infarto.

- Pode deixar mãe, juro que não vou passar a noite em outro lugar... E CH, da pra você sair de dentro desse banheiro.

- Calma, já to saindo. – disse ele abrindo a porta do box.

- Dez horas dentro do banheiro, nunca vi, parece até que vai casar, meu deus do céu. – disse tirando a roupa para entrar no banho. – E por favor, me dêem licença que eu estou afim de adiantar o serviço que fizeram questão de atrasar.

- Ai meu filho, que besteira, acha que eu nunca te vi pelado? Pare de me olhar com essa cara, já estou indo. – disse ela virando as costas. – Vem, vamos meu filho.

Eu normalmente não tomava banho quente, mas aquela não era uma condição normal, então resolvi mudar um pouco e aproveitar a água caindo sobre a minha cabeça, por incrível que parece, essa é uma das formas mais fáceis de relaxar.

Depois que todos estávamos prontos foi só nos despedir da mãe e ir pra praça, onde nós tínhamos combinado de nos encontrar com as meninas e os meninos com que nós normalmente saiamos. Quando chegamos a Aline e o Gustavo já estavam lá, e se eu não me engano percebi um olhar diferente trocado do meu irmão para a Aline.

Ficamos conversando por algum tempo nos bancos da praça mesmo até que eu tive a ideia de chamar minha irmã e o Gustavo pra ir comprar um refrigerante pra nós, já que pelo que parecia o resto da turma ia demorar um pouco mais para chegar. O Gustavo também gostava da Aline, e não foi fácil o fazerele sair de perto dela, mas com algumas ameaças e um pouco de calma consegui levar pra longe por tempo suficiente pra que alguma coisa acontecesse

- Onde é que nós vamos comprar esse refrigerante? – pergunta Gustavo ansioso pra voltar pra praça.

- Acho que lá no bar do João. – respondi.

- Mas lá num é um pouco longe não, tem a padaria que é bem mais perto.

- A padaria já deve estar fechada a uma hora dessas, - disse disfarçando uma risada.

- Ai Gu, para com isso e vem logo com a gente, que preguiça é essa de andar hein, já estamos quase chegando, e alem do mais, você não tem o que fazer... – disse a Gabbi ficando com raiva daquela discussão sem sentido algum.

- Ta bom, ta bom, já que você ta pedindo eu vou lá, mas e se o pessoal chegar e a gente não tiver lá? – Ele perguntou. Na realidade era mais um pedido do que uma pergunta.

- Eles vão ficar lá esperando com o CH e com a Aline, não? – perguntei fingindo não entender o motivo da pergunta.

- Acho que ninguém mais vai ir à pizzaria com a gente não, - começou a falar a Gabbi. – A Dani disse que ia ter que ficar em casa porque os pais dela não deixaram ela sair, o Thi disse que ia pra Guruanã ver se encontrava um negócio que ele tava procurando e o Beto não confirmou nem negou nada, então acho que não vem.

- E por que você não me contou isso Gabbi? – perguntei adiantando a pergunta que o Gustavo estava para fazer.

- Eu devo ter esquecido, eles me falaram na hora que você foi viajar Claus, e eu não lembrei de te falar.

- Não tem problema não, pelo menos não pra mim, a gente faz a festa só nós cinco mesmo.

Continuamos andando até o bar do João, eu e a Gabbi fomos cantando e o Gu ficou com uma cara de poucos amigos, compramos os refris e quando estávamos voltando pra praça ele falou.

- Gente, eu não estou passando muito bem não, eu acho que vou pra casa, vou aproveitar que já estou aqui perto e vou pra lá. – deu um beijo da Gabbi e apertou a minha mão.

- Melhoras pra você Gu, num fica assim não. – disse a Gabbi tentando consolá-lo.

- Falou moleque, até amanhã. – disse eu com um aceno de mão.

- Até.

Eu e a Gabbi continuamos andando e quando ele já estava um pouco mais para trás de nós eu comentei.

- O Gu anda meio estranho ultimamente, ele já gostou da Dany, da Fe, e agora ta gostando da Aline também, por que ele não se decide por uma de vez?

- É não é? Tanta gente dando bola pra ele e ele fica ai sofrendo por quem não quer nada com ele, vai entender uma coisa dessas!

- Também não entendo isso nele. A Fe é uma pessoa legal, além de ser bonita e talz. – disse sem perceber na cara que a Gabbi fazia.

- É verdade, as vezes eu acho que ele não merece é ninguém, isso sim!

- Vamos falar de outra coisa né? Vamos volta a cantar? – disse puxando o refrão de uma musica que a Gabbi tinha composto pra nossa banda.

Continuamos andando até a praça, e quando chegamos ficamos meio constrangidos de atrapalhar o que estava acontecendo entre a Aline e o CH, e decidimos dar umas voltas pela praça e ver o que acontecia.

A chuva começava a enfraquecer lentamente, mas nem de perto o sol ameaçava sair, as nuvens cobriam todo o céu e a escuridão ainda dominava as ruas, a água do rio corria mais apresada do que nunca, e as gotas da chuva pesavam minha roupa cada vez mais, aumentando o peso que eu carregava nas costas, o peso de todos os meus sentimentos desmoronando sobre mim.


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Desculpa gente, eu sei que eu demorei um pouquinho pra postar né (na verdade foi muito mas ta blz), é que eu não ia mais escrever mas resolvi voltar, Espero que gostem e... COMENTEM! RUM

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tudo que é bom...



Os raios de sol tocaram com força a parte de fora dos meus olhos, tudo que eu pude ver quando os abri, eram borrões vermelhos com pontos coloridos. Não sabia

muito bem onde eu estava, olhei ao redor, e antes mesmo de poder ver uma imagem fiel, percebi que continuava na montanha.

Com o tempo, minha visão foi melhorando e percebi que estava deitado no colo da Branca. Levantei sem querer acordá-la e fui até onde estavam nossas roupas, remexi por um tempo até encontrar o celular dela. Esperava encontrar o marcador do relógio em algo parecido com cinco e meia da manhã, pro meu espanto, já eram nove horas e provavelmente todos estavam a nossa procura.

- Meu amor, meu amor. – falei no ouvido dela, que nem se mexeu. – Branca! Acorda amor. – falei dando um beijo na bochecha dela.

- Ainda é cedo mãe, eu quero dormir mais cinco minutos.

- Eu agora pareço a sua mãe é? – disse rindo e abraçando-a

- Nas atitudes eu diria que sim, vem dormir junto comigo.

- Branca. – ela abriu um dos olhos – Já são nove e meia da manhã, a gente não pode mais ficar aqui. Temos que voltar pra cidade, ou sentirão nossa falta, se já não sentiram.

- Nove e meia? – disse ela assustada – O meu vôo parte às onze horas, meu deus do céu.

O meu vôo parte às onze horas, essa frase ficou latejando em minha cabeça, por mais que eu soubesse que ela teria que ir embora um dia, eu não esperava, e muito menos queria que esse dia fosse aquele. Fiquei sentado olhando-a se arrumar, vestir as roupas, pra irmos embora.

- Então é isso? Você vai embora hoje, e a gente... – minha voz morreu.

- Se dependesse somente de mim, - ela fez uma pausa e chegou mais perto de mim – você pode ter certeza de que nunca iria embora daqui.

- Eu sei disso, mas mesmo assim, saber que nós podemos não nos ver nunca mais... É horrível.

Uma lágrima escorreu pelo meu olho. Branca veio se aproximando de mim, e me abraçou. Ficamos ali no silêncio, por alguns minutos, que poderiam ter durado para sempre que eu não reclamaria. Eu não suportaria a pressão de não poder vê-la. Por fim, decidi não pensar muito nisso, e viver os nossos últimos momentos, já que eles eram os últimos, pelo menos por enquanto.

Voltamos de mãos dadas para a cidade, e logo que chegamos os nossos celulares tocaram. O meu era minha mãe e estava super preocupada comigo, ela gritava, brigava, mas por fim eu tinha certeza que ela estava era aliviada. O da Branca era a Helen, que estava desesperada, já que o avião estava a pouco mais de uma hora de decolar, e ela não tinha aparecido nem para arrumar a bolsa.

Deixei a Branca no hotel em que a delegação mineira estava e fui dar uma passada em casa, para mais tarde ir pro aeroporto, que ficava em outra cidade, com elas. Não demorou muito e logo estava sentado no sofá ouvindo mais um sermão da minha mãe, ela dizia a mesma coisa de sempre “você ainda vai me matar de preocupação” “ você tem sorte de ser meu filho, se fosse outra mãe você já estaria de castigo a muito tempo” “a culpa de você ser desse jeito é minha, eu devia era te enfiar a mão e...” e mais um monte de coisas que eu não presto muita atenção.

Depois de quase dez minutos e de meu ouvido estar inchado ela me deixou ir pro meu quarto e me arrumar, sem dar uma explicação decente sobre o que eu estava fazendo a noite toda, na verdade, eu acho mesmo é que ela já imaginava como minha noite tinha sido, ou pelo menos era isso que parecia.

- Mano? Onde é que você esteve a noite toda? – perguntou-me a Gabbi entrando no meu quarto e deitando na minha cama.

- Você tem certeza que quer mesmo saber? – disse envergonhado

- Se eu não quisesse teria perguntado? – disse ela ironicamente

- Tá bom... Eu estava na montanha que fica a beira do rio. – parei de falar como se

a explicação tivesse acabado ali, mas a Gabbi fez um gesto de cabeça me mandando continuar – Bom... Eu passei a noite lá com a Branca se é isso que você quer saber.

- Eu imaginei que fosse algo do gênero, mas foi bom?

- Você não quer saber os detalhes sórdidos também não? – disse eu ficando vermelho.

- Querer, querer eu quero, mas eu sei que você não vai falar, então deixa pra lá.

- Ainda bem que sabe né? Mas mudando um pouco de assunto, o que foi que rolou no lance do CH? Deu em alguma coisa ou a Aline ficou só enrolando ele mesmo?

- Por que você não pergunta isso a ele? Me contar as coisas você não quer, agora falou em perguntar você é o primeiro a fazer isso.

- Para de birra menina, me conta logo. – disse rindo

- Tá bom, mas você nunca me conta nada. – ela parou me encarou e depois riu me jogando na cama – Eu falei com ela, e nós estávamos certos, ela estava realmente interessada, mas ontem, a mamãe não deixou ele ficar na rua com a gente, ela trouxe ele pra casa a força, mesmo comigo pedindo muito pra ele ficar, mas ela disse que se eu insistisse muito quem viria pra casa era eu.

- Então quer dizer que não rolou nada? Eu tenho que dar um jeito nisso – parei de

falar e peguei uma calça jeans no armário – me lembra de falar com ele mais tarde. Eu tiro ele de casa hoje, nem que eu tenha que fugir pela janela. – falei rindo.

- Você não vai precisar fazer isso, é só você pedir pra dona Denise que ela deixa ele sair numa boa. Você é o queridinho dela, já passou a noite toda fora de casa e o máximo que aconteceu foi um esporo de dez minutinhos, se fosse comigo não queria nem ver no que ia dar.

- Você pode parar de bancar a coitadinha? Todo mundo sabe que a mamãe gosta tanto de você quanto de mim e do CH.

- Não vale à pena brigar por causa disso, mas o campeão ai vai fazer o que agora? Tá se arrumando todo.

- Eu combinei com a Branca de ir até Recife com ela, vou ficar no aeroporto com ela.

- Entendo... É dever de um anfitrião consolar os perdedores. – disse ela e começou a rir.

- Ótima piada essa sua.

- Muito obrigado.

- Eu fui irônico. – disse começando a me estressar com ela.

- E eu mais ainda.

Sai do quarto com minha camisa na mão e fui em direção ao banheiro, antes que nossa discussão virasse uma briga daquelas que nós já estávamos acostumados, mas que sempre me deixava mal. Quando cheguei no banheiro tive que esperar o CH abrir a porta porque ele sempre trancava quando ia tomar banho.

- CH, você ta afim de sair comigo e com a Gabbi hoje a noite? – perguntei pensando no que nós íamos fazer – Acho que a gente vai na pizzaria com a Aline e umas amigas da Gabbi, Vamos?

- Do jeito que eu tenho sorte é capaz de chover granizo, e também tem a mamãe, num sei se ela vai deixar? – disse ele desanimado.

- Eu to perguntando se você quer ir ou não, e não os problemas que a gente vai enfrentar, eu do um jeito neles. E ai, vai querer ir ou não?

- Se você conseguir resolver...

- Dá pra você me dizer sim ou não de uma vez, eu to com um pouco de presa. – disse colocando a escova de dente na boca.

- Tá bom, eu quero ir, que horas a gente vai?

- Antes da gente sair eu tenho que levar a Branca no aeroporto e voltar, então acho que lá pras 9 horas eu to de volta.

-Ta bom então, e se você não chegar aqui nesse horário eu juro que te mato. – disse ele saindo do Box e me dando um soco no ombro.

- Vai querer brigar comigo é? – disse revidando o soco e saindo do banheiro.

O sol estava de rachar e mesmo dentro de casa eu não conseguia ficar com camisa. Apesar de tudo o que estava acontecendo e que ainda irai acontecer eu estava estranhamente feliz, desci as escadas e fui à cozinha falar com minha mãe. Sentei na mesa e fiquei olhando ela lavar a louça, sempre que fazia isso era porque queria pedir alguma coisa, e ela logo pergunto.

- O que é que você quer dessa vez Claus?

- Já que você quer ser direta... – disse rindo – Quando eu voltar de Recife, tava pensando se eu poderia sair com a Gabbi e o CH, você deixa?

- Vou pensar no seu caso.

- Ah mãe, vai deixa a gente sair um pouco, o CH ta doido pra dar uma volta pela cidade, e a Gabbi ta merecendo né? Ela ganhou o campeonato Brasileiro mãe, deixa vai? – disse fazendo manha

- Tá bom filho, mas num tá na sua hora ainda não? Daqui a pouco o ônibus da Branca deve tá saindo, vai logo, vai.

- Obrigado mãe. – disse dando um abraço nela. – E não precisa me enxotar de casa

não, eu já to indo. – disse entre risos.

Quando cheguei à rua com minha blusa nos ombros senti um calor infernal, andei procurando as sombras e em pouco tempo já tinha deixado minha casa para trás. Não demorou muito e cheguei no Hotel em que a Branca estava hospedada, fui até a recepção e pedi para ligarem pro apartamento dela, Ela me mandou subir.

Quando entrei no quarto ela estava sentada na cama conversando com a Helen, cumprimentei a Helen primeiro e depois fui falar com a Branca, sentei do lado dela e nos beijamos.

- Cof-cof – Forçou a Helen para chamar nossa atenção. – Eu vou indo então, ver que horas nosso ônibus vai sair, fiquem a vontade, se é que já não estão.

- E precisa deixar esse daqui ficar a vontade agora, nunca vi ninguém mais folgado na minha vida. – disse a Branca fazendo a Helen rir.

- Haha, senhora graça você agora né?

- Deixa eu ir logo antes que eu crie a discórdia no casal. – disse ela e foi saindo.

- Agora que a gente tá sozinho... – comecei a dizer.

- Nem complete a sua frase seu Claus.

- Você nem sabe o que eu ia dizer.

- E nem quero ouvir o que sua mente pervertida está pensando.

- Nossa, que mal juízo que você faz de mim, só ia falar que a gente podia dar uns beijinhos.

- Claro... – disse ela sendo irônica.

Ficamos deitados na cama dela por um bom tempo, nos beijando, fazendo carinho e curtindo os últimos momentos que teríamos juntos, mas como tudo que é bom dura pouco, não se passou nem quinze minutos e a Helen voltou e disse que o nosso ônibus já estava saindo.




Chuva. Escuridão. Dor.

Eram somente essas palavras que eu conseguia pensar, a

chuva continuava apertando e a ponte balançava mais

do que nunca.

Raio.

Mais um raio caiu, e mais um e mais um, eles não paravam de cair, e cada raio que caía levava um lagrima minha.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mais do que mil palavras

Duas decisões em dois dias não havia coração que aguentasse, aliais tinha sim, o da minha mãe, ela tinha visto o meu jogo e agora se arrumava pra ver a minha irmã, que já não estava em casa desde cedo. Eram quase quatro da tarde e desde as oito da manhã a Gabbi tinha saído de casa para se concentrar com a equipe dela, eu nem tinha a visto sair pela manha, pois tinha dormido tarde por conta da festa da vitória, e se tudo desse certo hoje seria igualzinho a ontem.

Só tinha um problema, a cada hora que se passava a distancia entre eu e Branca aumentava, logo depois da viajem ela teria que ir embora com o time dela, e eu não fazia ideia de como ficaria a nossa situação dali pra frente.

A tarde foi virando noite e às seis horas da tarde se aproximaram com uma velocidade imensa. Assim que terminei de tomar banho tive que me arrumar e sair correndo para o ginásio, todos já tinham ido e eu estava quase atrasado. Quando cheguei lá os times ainda não tinham entrado, mas não iria demorar muito.

- Claus, pra quem você está torcendo hoje? – perguntou CH.

- Eu vou torce pra ninguém, só tem time ruim nessa final. – estava segurando o riso – Brincadeira, vou torce pra quem vencer, aliais não vou torce pra ninguém, porque ai eu não crio problema nem com uma nem com a outra.

- Deixa só a Gabbi ouvir você falando que na vai torce pra ela! – ele começou a rir e comentou – Acha que é capaz dela mudar de posição só pra dar umas bolas na Branca.

- Então ninguém vai dizer nada não é! Se a mana perguntar eu torci pra ela, e se a Branca perguntar eu torci pra Branca. – comecei a rir junto do meu irmão.

- Olha Claus, - disse ele apontando para as portas dos vestiários – acho que alguma seleção vai entrar em quadra.

O ginásio inteiro levantou para aplaudir as duas seleções que saiam lado a lado do vestiário e cumprimentavam a torcida. Mandei um beijo para Branca e ela me mandou outro de volta, fazendo alguns meninos que estavam por perto ficarem me olhando com cara feia. A Gabbi parecia estar em casa, mandava beijo pra todo mundo e sabia muito bem jogar junto da torcida, logo todos estavam gritando o nome dela.

O aquecimento foi tenso, assim como o ataque à rede. Muita gritaria e nervosismo pairavam no ar. No ataque a rede a Branca cravou uma bola que eu nunca tinha visto uma jogadora do feminino atacar, e a Gabbi que estava de saída de rede nesse jogo, pois a titular tinha machucado o pé, estava atacando bem já que antes de virar libero era tinha sido uma ótima jogadora daquela posição.

O jogo começou, e como em todos os jogos femininos, o ginásio irrompeu em gritaria dos dois times e logo o clima de final de campeonato ficou evidente.

Pra um jogador de vôlei, ficar do lado de fora de um jogo é um martírio, ver alguns erros que foram cometidos e não poder fazer nada pra mudar é uma sensação horrível. O jogo estava muito disputado, com os dois times virando as bolas toda hora. O primeiro set acabou em um saque da Aline, uma das amigas da Gabbi e que tinha certa intimidade com meu irmão CH. Ela era bonita, e uma ótima jogadora, e com um belo saque que foi direto para o chão fechou o primeiro set em 30x28.

O intervalo de um set para o outro fez bem à seleção de Minas, e logo no inicio do segundo set o placar já mostrava uma boa vantagem a favor da mesma. O segundo set foi o mais fácil, mas foi também o que mai atiçou a rivalidade já existente. Já no fim do set, quando estava claro que a seleção mineira venceria o set, minha irmãzinha deu um bloqueio que voltou direto para a quadra de minas e gritou na cara da atacante, se me permite comentar isso não foi uma coisa muito inteligente a se fazer, mas como ela era minha irmã eu não esperava uma coisa muito diferente dela.

Daquele ponto pra frente o jogo ficou um tanto nervoso, as duas equipes estavam fazendo uma verdadeira final. O terceiro set foi ainda mai disputado do que o segundo, com muitos pontos de bloqueio, e com duas cravadas seguidas da Branca, além é claro, dos dois peixinhos mais lindos que eu já tinha visto a Gabbi dar. Bom, se me pedissem pra dar aquele set pra quem eu achasse mais merecedor eu realmente não saberia o que fazer, mas como um jogo de vôlei não há empate a seleção mineira saiu vitoriosa naquele set.

O quarto set foi o mais emocionante de todos. Durou mais de cinquenta minutos, com ótimos ralis e com lindas jogadas e como não podia ser diferente foi o set que levou o jogo pro quinto e decisivo set. A seleção pernambucana ganhou em uma virada impressionante no saque da Gabbi e da Aline, ganhando de 34x32.

O ultimo set foi emoção do inicio ao fim, apesar de não ter sido o mais emocionante, foi com toda a certeza, o que teve as melhores jogadas, e os lances mais curiosos. Logo no inicio, a Helen acertou uma bola no rosto da Aline, e sinceramente, se você quer criar inimizade com alguém, que essa pessoa não seja a Aline, porque quando ela se estressa não tem quem segure. Um ponto antes das equipes mudarem de lado, a levantadora de Pernambuco levantou pra Gabbi na saída e ela cravou a bola no rosto da Branca, que estava bloqueando, as equipes viraram de quadra, e a Branca não deixou por menos, enfiou uma pancada na bola que fez a libero da seleção pernambucana cair para trás.

O ultimo ponto foi sem a menor duvida um dos mais bonitos do jogo, a Helen mandou uma pancada da linha de saque, que a Gabbi passou na mão da levantadora que botou uma bola para a meio, ela sentou uma pancada na bola, mas deu defesa. A defesa foi quebrada e a levantadora teve que se deslocar para levantar, a Branca estava na rede e deu um tiro pro lado pernambucano, que usou sua principal característica, a defesa, para segurar a bola, a mana pediu que a bola fosse levantada nela da linha dos três, o que acabou acontecendo, mas a bola mais uma vez não caiu no chão.

O rali continuou por mais uns trinta segundos até que em uma recuperação de pingo, a seleção mineira conseguiu o contra ataque e a bola foi colocada pra Branca, que não conseguiu encaixar a bola e mandou um avião que foi parar na arquibancada, cedendo ao time da casa o titulo de campeonato brasileiro.

A vibração no ginásio foi impressionante, foi uma festa ainda maior do que a do dia anterior. Aquele era o primeiro titulo brasileiro que a seleção feminina de vôlei de Pernambuco conseguia. Minha irmã estava realmente louca, corria pela quadra gritando, e chorando muito. Meu irmão e minha mãe já tinham pulado a grade que separava a quadra da torcida e estavam correndo pra abraçá-la. Eu estava feliz por ela, até que encontrei uma imagem familiar sentada em um canto com a cabeça entre as pernas e parecia chorar muito, era a Branca.

Fiquei na dúvida quanto ao que fazer, mas resolvi dar os parabéns a minha irmã antes de qualquer coisa. Fui andando depressa e a cumprimentei, mas ela estava realmente fora de si, e nem me deu muita atenção, de certa forma eu até achei aquilo bom, pois eu teria mais tempo pra ficar com Branca sem a Gabbi ficar triste comigo por não estar do lado dela naquele momento.

Quando cheguei ao canto da quadra, e me sentei ao lado dela, não percebi nenhum movimento, mas eu sabia o que era perde um campeonato importante e resolvi não me meter, alguns minutos se passaram e ela levantou a cabeça.

- Como você está? – perguntei.

- Não fala nada, só me beija. – ela me pediu, e não precisou pedir mais uma vez.

Ficamos ali, naquele canto da quadra por um bom tempo, quando paramos de nos beijar e abrimos os olhos, o ginásio já não estava tão cheio, e a cerimônia de premiação já estava para começar. Ela não estava com a menor vontade de ir naquela premiação, diferente da Gabbi, é claro, que estava completamente animada e não parara de comemorar até o momento. Eu levantei e peguei nas mãos da Branca pra ajudá-la, ela levantou sem a menor vontade e só foi ao pódio porque eu pedi.

- E agora? O que vocês vão fazer Gabbi? – perguntei eu depois da premiação, enquanto a Branca estava no banheiro.

- Acho que vamos à pizzaria do Zé, as meninas ainda estão decidindo.

- Você ligaria se eu não fosse pra lá com vocês, ou aparecesse depois? – perguntei.

- Eu acho que tem gente que precisa mais de você nesse momento não é? Pode ficar com ele Claus, - ela realmente tinha mudado. – eu não ligo, sinceramente, mas se der tempo, aparece lá depois, ok?

- Pode deixar, - concordei – E mana, eu não sei se você percebeu mas tem um outro menino na nossa família que ta gostando de alguém.

- É... Eu acho que eu já percebi isso também, ele não tira o olho dela. – Ela comentou dando risada, e olhando na direção do CH.

- Tenta ajudar ele então, as vezes o dia termina bem pra todos nós. Quem sabe?

- Vou fazer o possível e o impossível pra isso acontecer.

- Que bom, então acho que te encontro mais tarde lá no Zé, mas agora eu tenho que ir que a Branca já deve ta saindo pro Hotel. – me despedi com um beijo. – E parabéns pela vitória! – acrescentei enquanto saia.

Encontrei a Branca do lado de fora do ginásio conversando com a Helen e com outra amiga dela. Chamei-a pra um canto, pois não queria ficar olhando para o rosto da Helen, e ficar perto dela não era uma situação que me animava muito.

- O que você vai fazer agora? – perguntei pegando nas mãos delas.

- Eu não tenho plano nenhum, estava pensando em ir pro meu hotel, descansar, e amanhã... – ela parou de falar como quem tinha medo do que estava prestes a dizer.

- Amanhã você vai ter que ir embora não é?

- Infelizmente sim, - ela disse triste – eu não posso ficar longe da minha família, tenho meus estudos pra terminar, o resto da minha vida é em Minas Claus, e você sabe disso, não sabe? Você sempre soube que eu teria que ir embora.

- Eu só não esperava que fosse ser tão cedo.

- Nem eu.

- E você esta realmente achando que eu vou deixar você ir pro hotel no último dia que eu posso te ver? – disse eu olhando dentro dos olhos dela.

- E o que você está querendo fazer? – apesar de saber muito bem a resposta. – Me fala?

- Um gesto vale mais que mil palavras. – beijei-a e a mesma emoção do meu primeiro beijo nela voltou. – Vem, tenho que te mostrar um lugar.

- Onde?

- Quando a gente chegar você vai saber. A presa é inimiga da perfeição.

Andamos por algum tempo, parando em umas esquinas pra beijar, e olhar as estrelas, que naquele dia estavam perfeitas. A Lua cheia continuava no céu, e quando chegamos ao pé da mesma montanha em que eu havia estado alguns dias antes, olhamos para o céu e eu disse.

- Eu te daria a lua se você quisesse, e eu pudesse, mas já que não posso você aceita um beijo meu?

- Seu bobo, isso você não precisa nem pedir, você sabe.

Nos beijamos e continuamos subindo a montanha, quando chegamos no lugar que eu queria, nos sentamos, e ficamos olhando a lua, ela era linda só não era tão linda quanto a Branca. Eu estava pensando mil coisas quando ela falou.

- Foi aqui que você trouxe ela, não foi?

- Ela quem?

- Você sabe de quem eu estou falando, a Helen é claro, não foi aqui que vocês transaram?

- Bem, foi... Foi aqui que eu trouxe ela sim, eu acho que esse é o lugar mais bonito da cidade, mas... Nós não transamos, eu não tive coragem de fazer isso com ela, eu estaria usando ela, e quando eu estava aqui com ela, eu só pensava em você e em te trazer aqui.

- Vocês não... – ela estava constrangida em tocas naquela assunto.

- Nunca, nem com ela nem com ninguém, eu sou virgem. Mas a gente podia parar de falar dela e falar em nós.

- E o que é que a gente tem pra falar? Não foi você que disse que um gesto vale mais do que mil palavras? Então deixa de falar, e faz.

- Já que você ta pedindo... – eu parei e olhei no fundo dos olhos dela – Eu vou fazer desta, a noite mais feliz de toda a sua vida.





Mais alguns pássaros voaram longe, o medo me consumia mais do que nunca e minha vontade de me jogar daquela ponte estava abalada, eu estava relembrando o momento mais feliz que eu viveram em muito tempo, desde que eu tinha conhecido a Branca meu maior sonho tinha se tornado ter ela por inteiro, e naquela noite meu desejo tinha se realizado.

A chuva estava passando, mais ainda assim não era possível enxergar muita coisa a minha volta, a neblina estava muito densa e a minha visão estava comprometida. Os pingos de chuva já não disfarçavam mais as minhas lagrimas.

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Desculpa a demora gente, eu estava sem internet e não deu pra postar antes, espero que gostem, domingo a noite posto o outro.

sábado, 11 de setembro de 2010

O Grande Dia.

Aquele não era eu, eu nunca deixaria de encarar a morte, eu tinha certeza do que eu queria, eu não podia mais viver, ninguém sentiria minha falta e muito pior, ninguém me procuraria.

Voltei pra ponte, sentei-me no mesmo lugar de alguns segundos atrás, e comecei a refletir. Cheguei a uma conclusão, era claro que eu estava confuso, não sabia ao certo o que eu queria, mas com certeza a vontade de tirar minha própria vida ainda esta viva dentro de mim.

A noite passou rápido, acordei e segui a mesma rotina de todos os dias. Sentei a mesa do café e todos estavam ansiosos, aquele clima não me deixava nada bem, o jeito como eles me olhavam me deixava mais nervoso do que eu estava o dia inteiro.

Logo que terminei de tomar meu café fui pra praça relaxar um pouco. Sentei no banco e olhei a minha volta, bem no canto da praça estava ela, no mesmo lugar que a minha irmã tinha ficado com um menino no dia anterior.

Minha cabeça estava cheia de duvida, eu não sabia se deveria ir até lá e pedir desculpas por tudo que eu tinha falado na cara dela. Mas naquele momento eu não queria mexer com isso, não me ajudaria em nada, só me atrapalharia na hora do jogo.

O tempo passou rápido enquanto eu a admirava, as horas voaram e quando eu fui ver já era quase a hora do almoço. Deixei a Branca lá, sentada, debaixo daquela árvore e fui pra casa almoçar. O almoço foi tão tenso quanto o jantar, não que meus familiares quisessem que eu perdesse ou não confiassem no nosso potencial, mas o medo de que tudo que eu sonhei em alcançar um dia, não ser concretizado estava realmente atrapalhando o clima dentro da minha casa.

O tempo passou e quando o sino da igreja já badalava duas horas da tarde eu fui pro ginásio para me reunir com meu time. O jogo começava as cinco horas da tarde, e foram mais de duas horas e meia de apreensão antes que o jogo começasse, e quando começou o meu nervosismo não diminuiu nem um pouquinho.

O aquecimento foi a pior parte do jogo, meu nervosismo crescia a cada ataque a rede que eu dava, apesar de estar acertando todos. O jogo começou muito equilibrado e com muitos ralis, eles começaram na frente e terminaram o primeiro tempo técnico ganhando por um ponto de diferença, o esporo que nosso técnico deu parece que surtiu efeito e no primeiro ponto depois do tempo o levantador do meu time levantou uma bola perfeita e foi só eu cravar ela no chão. Pode até parecer que não, mas cravar uma bola em um jogo daquela importância era realmente um remédio para os nervos.

Depois daquele ponto o jogo melhorou pro meu lado e a nossa seleção fechou o segundo tempo técnico na frente do tempo, estávamos ganhando de 16X13, e a torcida gritava cada vez mais a nosso favor.

O que a gente não esperava que acontecesse era que o Vern ainda se recuperasse naquele set, e muito menos que ele fizesse a quantidade de pontos que ele fez, infelizmente pra nossa seleção o primeiro set acabou de 26x24 pra seleção de Minas Gerais.

O jogo estava muito bom, alto nível, digno de um jogo de seleção brasileira. Só tinha um problema, eles estavam na frente, e nós não podíamos dar esperanças a uma seleção daquele nível. O segundo set começou e o nosso time parecia morto em quadra.

A seleção mineira fechou o primeiro tempo técnico em 8x3, e eu era o único que tinha feito ponto na nossa equipe. A equipe estava tão abatida e nervosa que o nosso técnico teve que gritar na cara de cada um de nós, pelo menos isso fez efeito... O jogo continuou, e como eu era o melhor jogador do nosso time em quadra, a maioria das bolas levantadas vinha na minha direção e eu estava impossível nesse jogo, não tinha errado nenhum ataque.

Depois da lavada que nós tomamos até o primeiro tempo técnico, parecia que o time tinha começado a reagir, e fechamos o segundo tempo na frente vencendo de 16x12 graças ao meu saque que tinha feito 7 pontos seguidos.

Os dois times estavam mais nervosos a cada minuto e o jogo já se aproximava do final do 4 set, a seleção mineira vencia de 24x22, porem estávamos ganhando a partida de 2x1.

O saque era deles, e quem estava sacando era o Vern, um saque viagem e muito forte, o nosso libero deu um passe quebrado e o levantador jogou a bola do fundo para mim...Aquele foi o ponto mais bonito do jogo até o momento, eu pulei da linha dos três e passei o peito da rede, alonguei o ataque mas com muita força e a bola explodiu no peito do Deco e caiu no chão. O ginásio explodiu em festa, todos gritavam pelo belo ponto que eu havia feito, e eu gritava junto com eles... Pena que não tenha adiantado muita coisa. Fomos para o saque e a seleção mineira fechou o set em 25x23.

O tié break foi o set mais difícil de todo o jogo, o placar ficou empatado em quase todo o tempo. Estava de 10x10, quando eu entrei na rede, pedi minha bola mais rápida, e fui louco pra cravá-la na cara de qualquer um daqueles mineiros, mas o Vern estragou o meu prazer e a bola desceu com tudo no chão, foi o toco mais bonito da historia do campeonato brasileiro de vôlei. O jogo continuou normalmente, e o tié break estava de 14x14, e o saque era nosso.

Breno, o nosso ponteiro, foi para o saque, mas não foi um bom saque o passe foi na mão do levantador adversário e a equipe de minas fez o ponto, o jogo continuou empatado por um bom tempo e quando eu entrei no saque já estava de 20x20.

Eu estava nervoso, não podia errar, o titulo do campeonato brasileiro dependia do meu saque, e aquele era um dos meus principais fundamentos.

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! O juiz apitou...

Tum Tum, Tum Tum, Tum Tum. Meu coração disparou, joguei a bola pra cima e corri, bati na bola com toda a força que eu tinha, pra minha surpresa ela pegou muita velocidade, e foi quase que um saque perfeito. Ace. 21x20, a gente estava na frente, agora só faltava um ponto. Me concentrei novamente, fiz o mesmo movimento, mas dessa vez o libero adversário salvou a bola, o levantador colocou a bola onde ele queria e o Deco cravou na minha frente.

O saque era deles, mas o número 7, que estava no serviço errou. Ponto nosso, 22x21. Pedro, um do meios do nosso time foi para o saque, um saque flutuante, o libero de minas colocou a bola na mão do levantador novamente e a jogada se repetiu, ele chutou a bola na ponta e o Vern apareceu sozinho na minha frente, abri o peito e esperei a bola. Foi o que aconteceu, a bola bateu com tudo no meu peito, cai pra trás e só ouvi a torcida gritando, a bola tinha passado pra quadra adversária, levantei e fiquei esperando outra bolada, a bola foi novamente pra Vern, mas dessa vez o bloqueio estava montado na diagonal, ele desceu o braço novamente no corredor, na posição em que eu estava, mas essa não explodiu no meu peito, eu defendi e ela subiu.

- VEEEEEEEEEEEEEEEEM! – gritei com muita vontade de atacar.

E ele veio, Léo, o levantador do nosso time levantou a bola do jogo pra mim, ele inverteu uma bola da entrada da rede para a saída, a bola ficou perfeita, e eu subi do fundo sentando o braço, dessa vez não teve Vern que me parasse, a bola desceu e bateu antes da linha dos três. Eu desmontei chorando.

O meu maior sonho, o meu sonho de criança tinha se realizado, eu era campeão brasileiro, e tinha feito o último ponto do jogo. Eu estava chorando, levantei do chão e gritei.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! É CAMPEÃOO! – o ginásio inteiro me seguiu em um grito de “é campeão, é campeão”.

Sai gritando pela quadra feito um louco, não um louco qualquer, mas sim o mais feliz dos loucos. Pulei em cima do meu técnico e o abracei, se eu estava ali era graças a ele, ele que me ajudará desde que eu era pequeno, ele tinha sido o meu único técnico no vôlei.

O pódio foi montado em menos de 20 minutos, e ninguém deixou o estádio, primeiro subiu a seleção capixaba que tinha ficado em 3º lugar, depois a seleção mineira, e naquele momento quem subiria éramos nós. Primeiro subimos todos juntos e depois eu fui para frente receber a taça do presidente da CBV, ele pegou o microfone falou algumas palavras que eu não prestei atenção e me entregou o troféu. Na hora que eu encostei naquele ferro frio, a primeira coisa que eu fiz foi gritar.

- DENISE EU TE AMO! – e então todos os meus companheiros de equipe estavam pulando em cima de mim para tocar no troféu.

Depois de passar de mão em mão e todos nós termos pego a medalha, eu tomei o troféu em minhas mãos e comecei uma volta olímpica, corri por toda a quadra, e quando passei na frente do portão eu vi a Branca saindo e olhando para trás.

Eu não podia deixar aquela oportunidade passar, dei a taça na mão do Pedro e corri atrás dela, quando a vi ela estava abrasada, conversando com o Deco, mas eu não estava nem ai, chamei ela assim mesmo.

- Branca! Branca! – Ela virou e me perguntou silenciosamente o que era – Você pode falar comigo?

- Posso sim, um segundo. – ela se despediu do Vern com um selinho, virou as costas pra ele e veio se encontrar comigo. – O que é Claus? Se veio aqui pra jogar alguma coisa na minha cara você perdeu o seu tempo.

- E por que eu faria isso com você? – perguntei espantado com a recepção que eu havia tido.

- Porque você disse que ama uma tal de Denise ai, porque você ganhou o campeonato em cima o meu estado e por muitos outros motivos. – eu comecei a rir e ela não estava entendendo nada. – De que você está rindo?

- Você tem ciúmes até da minha mãe agora? – ela fez uma cara de confusa – Branca, Denise é o nome da minha mãe.

- Ah tá, eu não sabia, desculpa? – ela estava ficando vermelha

- Não tem problema não, mas não precisa ficar com ciúme não. – Era agora ou nunca mais. – Se você disser que sim... Você vai ser muito mais amada do que ela. – ela não falou nada – Quer namorar comigo?

- Cla... Claus, eu... Eu não posso abandonar o Venr sem antes falar com ele. – ela parecia triste, mas a resposta dela me parecia com um não.

- Isso quer dizer não então?

- Não, isso quer dizer mais do que nunca. – a gente se beijou ali mesmo, no meio da rua, e foi o beijo mais bonito da minha vida, no fundo eu sabia que seria muito difícil esse namoro ir pra frente, mas eu estava disposto a mover céus e terras por ela.

Levei-a pra dentro do ginásio, dessa vez eu queria que minha mãe e minha irmã fossem as primeiras pessoas a saberem. Eu sabia que ela estava com medo, minha irmã nunca gostaria dessa ideia, pelo menos era isso que eu esperava que acontecesse.

- Mãe, Gabbi, CH. – chamei eu – Essa daqui é Branca, a menina que eu amo e com quem eu estou namorando a partir de hoje, e nada que vocês façam vai muar isso.

- Claus, você sabe que eu sempre te apoiei em tudo que você fez, e não vai ser agora que vai ser diferente, ainda mais sendo sua namorada essa menina perfeita.

- Mas já tem dono tá CH! – disse rindo.

- Ah filho, pra mim o que for melhor pra você está bom. Se você acha que o melhor pra você vai ser ficar junto dela, eu te dou todo o meu apoio.

- Clau, se você quer ficar com ela, sinceramente, a partir de amanhã eu viro a melhor amiga dela, mas só depois do nosso jogo.

Apesar da recepção da Gabbi não ter sido das melhores eu estava animado quanto ao inicio do meu namoro, a aceitação da Branca estava melhor do que da primeira vez que ficamos juntos, ao menos dessa vez minha irmã não estava implicando com cada passo que eu dava.

O maior barulho que eu ouvirá desde a hora que eu chegará na ponte foi aquele. O medo dominava meu corpo, a adrenalina liberada me deixava cada vez mais ligado na situação ao meu redor, e percebi que os animais estavam começando a se distanciar da estrutura da ponte, o que não era nem de longe uma boa noticia.