quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Olhando as estrelas

Eu não tinha o direito de fazer aquilo com ela, não podia jogar com os sentimentos de alguém daquela maneira. O que eu mais havia repugnado no que tinha acontecido comigo era o fato de eu achar que a Branca tinha brincado com o meu sentimento o tempo todo, e agora quem estava brincando com os sentimentos de alguém? Eu tinha me rebaixado a um nível que eu tinha certeza que não me faria bem.

Levantei-me novamente, mas não sabia se queria me matar. De repente algo estranho aconteceu, a ponte tremeu, mas não foi uma tremidinha fraca, foi algo mais parecido com um pedaço da ponte se soltando. Debrucei no parapeito da ponte para ver o que havia causado o tremor, e reparei que um pedaço da coluna central da ponte havia caído.

A ponte já não apresentava mais a mesma segurança de antes, mas que diferença isso fazia para alguém que estava prestes a se matar, o pior que podia ocorrer era a ponte desabar e me levar junto pela correnteza.

Senti mais um tremor. Um pouco mais leve que o anterior. Olhei no relógio. Achava que algum tempo deveria ter passado desde que a ultima vez que havia olhado, estava errado. Os ponteiros do relógio pareciam não girar, o tempo devia estar congelado, eram 22h02min com certeza algo inexplicável estava acontecendo naquele momento. Fechei os olhos querendo que tudo aquilo passasse logo.

A montanha atrás de nós havia presenciado uma cena da qual eu tinha vergonha de ter participado, a festa já estava começando e muitos dos jogadores que eu tinha enfrentado no campeonato estavam lá. Olhei pra um canto da praça e vi minha irmã com o mesmo garoto de alguns dias atrás.

Pedi um tempo a Helen e fui lá falar com eles, eu não era ciumento, mas queria saber com quem que minha irmã vinha se agarrando a algum tempo. Cheguei perto de onde estavam e esperei eles pararem de se beijar. Chamei a Gabbi, pedindo que ela viesse um segundo perto de mim. Quando ela chegou eu falei.

- Gabbi, do mesmo jeito que eu te conto as coisas queria que você confiasse mais em mim pra me contar também. – Eu não estava chateado, mas minha fala soou como se eu estivesse.

- Desculpa Clau – disse ela usando um apelido que a muito tempo não via ela usar. – É que como você estava cheio de problemas eu achei que você não ia gostar de ficar ouvindo eu falando da minha vida, desculpa tá ?

- Eu não estou chateado não, eu acho que eu falei do jeito errado, é que eu fico preocupado com quem você anda, mas volta lá pra ele que parece que não tá gostando nada de ser atrapalhado por um irmão ciumento. - Ela riu do meu comentário e se afastou, esperei ela chegar ao banco dei as costas e fui me encontrar com a Helen no meio da tenda.

A praça estava ornamentada com 5 tendas, três com um tipo de musica diferente e duas com barracas de comidas e bebidas. A tenda em que nós estávamos estava tocando muita musica eletrônica, eu sempre gostei desse estilo e dançava muito bem, e pelo que parecia a Helen também adorava estávamos dançando até que o restante do time dela chegou na tenda e vieram se juntar a nós. Pra ser sincero mais a ela do que a mim, ninguém nem me deu ao menos um oi.

Ficamos dançando, e reparei que a Branca não tirava o olho de mim, ela estava obcecada, aliais ela estava era enciumada de me ver beijando a Helen daquele jeito. Depois de algum tempo percebi que ninguém ali queria a minha companhia e chamei a Helen para sair da tenda.

- Suas amigas não gostam de nos ver juntos. Eu não quero ficar mais ali perto delas.

- Você está sendo sincero mesmo? Eu acho que você está é com medo de ter que ficar olhando pra Branca o tempo todo. – Se ela dissesse isso a alguns minutos antes, no alto do morro, talvez eu dissesse que sim, mas agora era diferente.

- Isso não é verdade, eu não estou com medo de olhar pra...

- Oi, como vão os dois pombinhos? - Era o Deco, eu não suportava a voz daquele mineiro arrogante, ao lado dele vinha Branca, que não me parecia nada feliz.

- Muito melhor do que vocês. – Eu não gostava dele, e não precisava fingir que gostava, ele sempre tinha um tom de superioridade na voz que deixava meus nervos a flor da pele.

- Nossa! O que aconteceu para você está tão feliz desse jeito? - Perguntou ela sendo irônica

- Eu sei que você está sendo irônica, mas eu tenho muitos motivos pra estar feliz, não é Helen? - Eu tinha que parar de tentar fazê-la sofrer, eu estava virando um monstro.

- Deco, vamos lá no banheiro comigo? - Pediu ela, acho que ela queria mesmo era sair de perto de mim.

- Helen vai lá com ela, minha perna está doendo, e eu não vou poder entrar no banheiro com ela né! – Eu não sabia o que ele queria, mas tinha certeza que iria descobrir. – Você acha legal ficar dando em cima da mulher dos outros?

- Do que você está falando? Eu não estou dando em cima de ninguém. – Aquele menino realmente só podia ser um retardado.

- Você acha que eu sou bobo moleque, eu sei muito bem que você fica dando em cima da Branca o tempo inteiro.

- Pra começar eu não to dando em cima de ninguém como eu já falei, e depois que moral que você tem pra falar de dar em cima da mulher dos outros? Que eu saiba quem fez isso foi você, e se você pode acho que os outros também podem, apesar de eu não está fazendo isso. – Aquele argumento deixaria ele sem palavras, pelo menos era isso que eu esperava de alguém que tivesse o mínimo de consciência.

- Olha só, quem você pensa que é pra falar assim comigo? Você não passa...

- Voltamos meninos, e parece que na hora certa não é? Mais um segundo e vocês teriam caído no braço. – Disse a Branca sorrindo. – Meninos...Sempre os mesmos. – Ela pegou o Vern pelo braço se despediu, virou as costas e tornou a entrar na tenda, me deixando sozinho com a Helen.

Algum tempo se passou e nada aconteceu entre nós, além de ela ficar passando a mão no meu cabelo enquanto eu ficava deitado no colo dela.

- Sabe Claus, acho que nós precisamos conversar... – disse ela quebrando o silêncio. – Isso que está acontecendo entre nós nunca vai dar certo, você morra a quilômetros de distância de mim, e eu acho melhor parar por aqui, antes que eu sofra muito quando tiver que ir embora.

- Mas... – eu não sabia o que dizer, eu não estava entendendo mais nada. Sentei-me no banco e olhei nos olhos dela. – Porque você mudou de opinião assim, de uma hora pra outra?

- Eu não sei, mas acho melhor para por aqui, antes que um de nós dois, ou até mesmo os dois, se machuquem. – Ela me deu um beijo, levantou e saiu pra se juntar com as amigas dela.

Fiquei sentado no banco por algum tempo sem saber o que fazer olhando as pessoas passarem. O tempo passou rápido e quando eu fui ver já estava quase na hora da festa acabar, e como eu tinha a final do campeonato na tarde seguinte não queria demorar muito pra chegar em casa.

Procurei a Gabbi com os olhos, e como não a encontrei, fui andando pra casa. Ela não tinha jogo no dia seguinte e eu não ia estragar a festa dela. No caminho decidi voltar à montanha que mais cedo eu tinha estado com a Helen.

Subi quase até o topo do morro, olhei pro céu e uma lagrima escorreu pelo meu olho. Deitei na grama que cobria toda a superfície e fiquei olhando as estrelas, a constelação de Taurus era uma das que eu mais gostava, ela era especial por algum motivo que eu desconhecia. Cochilei por alguns minutos e quando acordei fui correndo pra casa, desesperado pra saber as horas, o medo me consumia por dentro, se já fosse muito tarde minha mãe me mataria.

Cheguei em casa, e percebi que não tinha passado tanto tempo, e que a festa continuava do lado de fora. Subi as escadas, troquei de roupa e me deitei.



A ponte estava cada vez mais perigosa, a correnteza que estava cada vez mais forte não melhorava muito a situação. Um barulho muito forte. O pedaço da ponte que dava pra fora da cidade tinha acabado de desabar. Desesperei-me e sai correndo pra cidade. Aquilo me deixou muito confuso, se eu realmente queria morrer porque estava fugindo da morte ?




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desculpa a demora gente, e eu sei que o capitulo ficou pequeno, mas foi o que deu pra fazer...

sábado, 14 de agosto de 2010

Na mesma moeda.

Apesar de eu está me esforçando muito pra lembrar as imagens não estavam claras em minha mente, eu só me lembrava que uma luz muito forte enchia o local com um brilho intenso, e duas pessoas estavam se beijando em um canto, não conseguia ver os rostos delas, mas tinha algo que me dizia que eu era uma daquelas pessoas.

Era só disse que eu me lembrava, e como nada mais vinha em minha cabeça fui ver o jogo. Algumas jogadas chamaram a minha atenção, principalmente o quanto a minha irmã tinha evoluído nos últimos dias, eu estava impressionado com as defesas que ela fazia.

O jogo estava emocionante, os dois times tinham o mesmo nível, e mereciam muito ir pra final. O tie break começou e o jogo continuava muito equilibrado, a seleção pernambucana estava no saque e tinha o match point, a levantadora sacou, o saque foi fácil e o passe chegou na mão da levantadora adversária, ela levantou uma ótima bola para a saída de rede, que usou toda a força para atacar a bola para baixo, mas a bola não caiu, eu não sei como mas a Gabbi conseguiu defender a bola e fazê-la cair no fundo da quadra adversária.

Acho que nem ela estava acreditando no que tinha feito, e a arquibancada gritava feito louca pela classificação que tinha sido conquistada. A mana estava em lagrimas e eu estava muito feliz por ela também, não era sempre que um libero fazia um ponto e muito menos um ponto como aquela importância.

Depois de alguns minutos minha irmã sentou do meu lado e eu dei um abraço muito forte nela, um abraço que ela merecia. Como nós não estávamos tendo aula e o adversário da minha irmã na final que aconteceria em três dia, sairia no próximo jogo entre São Paulo e Minas Gerais, resolvemos esperar e ver quem completaria a final com a nossa seleção feminina.

- Gabbi! Parabéns de verdade por tudo que você fez hoje, você merece muito mais do que isso, - eu estava preparando ela pra um pergunta que eu faria depois e que esperava receber uma resposta positiva – Eu posso te pedir uma coisa?

- Claro que pode Claus, peça! – ela estava tão feliz que nem imaginou o que eu estava prestes a falar.

- Você jura que não vai ficar triste comigo de novo independente do que eu faça? - A expressão dela mudou na hora – Eu prometo que não vou fazer nada contra você, mesmo que pareça.

- Nossa Claus, assim você me deixa preocupada, mas como agente já tinha conversado ontem, eu acho que tenho que aprender a respeitar as suas escolhas e é isso que eu vou fazer daqui em diante.

- Gabbi você não existi sabia? Você é a melhor irmã do mundo – disse enquanto cobria-a de beijos.

A outra semi final não estava tão animada quanto a primeira, apesar de não ser um jogo ruim. A seleção de Minas estava passando fácil por São Paulo, e provavelmente seria a seleção mineira que completaria a final.

O último ponto do jogo foi um dos mais bonitos, a levantadora botou uma bola na medida pra Helen que cravou antes da linha dos três e saiu gritando e pulando pelo belo ponto que havia feito. Logo que aconteceu o último ponto minha irmã me chamou pra ir embora.

- Claus, vamos embora?

- Gabbi, eu vou ficar mais um pouco, lembro do que eu falei mais cedo... Sobre você não se estressar comigo, acho que é isso que eu vou fazer agora.

- Já que é assim que você quer, eu vou indo na frente depois você vai.

- Ok.

Após o cumprimento entre as equipes, as atletas das duas seleções se encaminharam para fora da quadra. Na frente vinham Branca e Helen conversando sobre o jogo, eu fiquei esperando elas se aproximarem e quando elas estavam perto de mim eu falei.

- Parabéns pra vocês! – Dei um beijo no rosto da Branca, fui andando até a Helen e dei um beijo nela que não foi um beijo de amigo.

Foi um beijo que eu daria somente em uma pessoa, e essa pessoa não devia ser a Helen, mas foi nela que eu dei, pareceu demorar minutos, aliais horas, mas é claro que não tinham passado se quer trinta segundos.

Quando paramos de nos beijar algum tempo depois, a cara da Branca estava no chão e algumas lagrimas escoriam pelo rosto dela, e saiu correndo e a Helen ameaçou ir atrás.

- Você vai me abandonar por causa dela?

- Não, mas eu tenho que ir tenho que tomar banho e me arruma, depois agente conversa, ela me deu um beijo e ia saindo.

- Hoje a noite tem festa na praça, aparece lá! – Eu não sabia porque estava fazendo aquilo, mas eu não estava me sentindo mal no momento.

- Eu sei, acho que vou chegar umas oito horas da noite. – Disse ela com um sorriso no rosto.

- Mas a festa começa as dez horas, ai a gente podia ficar em um lugar mais reservado até esse horário. – Disse eu cheio das segundas intenções. – Pode ser?

- Depende né! Eu não sei o lugar que você quer! – Ela já sabia onde eu queria que levá-la, mas se fez de ingênua.

- Até onde você iria? - Perguntei sendo muito direto.

- Nesse lugar que você está pensando mesmo. – Respondeu ela com um sorriso safado no rosto.

- Então te encontro as oito na praça. – Dei um beijo nela e fiquei observando ela sair do ginásio.

Fiquei observando ela se afastar, e refletindo no que eu estava fazendo, tinha muitos motivos pra me arrepender do que eu havia acabado de fazer, mas a raiva no meu coração era mais forte do que todos aqueles motivos.

Ela virou a esquina e eu sai do transe em que me encontrava, peguei o caminho de casa e não demorou mito para chegar. Tentei parecer o mais normal possível e acho que funcionou até a Gabbi entrar em casa e se juntar a nós na mesa.

Quando nós estávamos no meio do almoço eu acho que ela percebeu que eu não estava normal, e me mandou um olhar de quem queria muito saber o que estava acontecendo comigo, eu respondi do mesmo jeito, em um olhar, um olhar de quem pede pra esperar um pouco.

No final do jantar eu subi pro meu quarto e ela veio atrás de mim, entrei no quarto e deixei a porta aberta esperando para ela entrar.

- O que está acontecendo Claus? Você não falou se quer uma palavra na hora do almoço. – Ela estava certa, o conflito entre minha raiva e meu remorso continuava dentro de mim.

Eu expliquei a situação a ela. Disse que tinha que ficar com alguém, se eu não ficasse eu provavelmente entraria em depressão de tanto pensar na Branca.

- ... E como eu precisava ficar co alguém e não sabia com quem ficar...

- Não vai me dizer que você cai na conversa dela de novo? - interrompeu-me ela.

- Posso terminar¿ - perguntei ironicamente.

- Desculpa, pode sim.

- ... Eu fiquei com a Helen, amiga da Branca.

- Você fez isso? - ela parecia feliz, eu não estava entendendo mais nada – Que ótimo mano, queria está lá pra... – a voz dela foi morrendo.

- Pra que mana? - perguntei já sabendo a resposta.

- Pra... Pra ver a cara que a Branca fez quando viu vocês dois lá juntos, se beijando.

- E eu lá quero saber que cara ela faz ou deixa de fazer? por mim ela pode até perde aquela cara de sem vergonha que ela tem que eu nem ligo.

Era obvio que eu estava mentindo. Quem eu queria enganar com aquele papo? Eu só tinha beijado a Helen pra fazer ciúme na Branca, e era isso que me perturbava, eu não devia pensar mais nela e muito menos querer que ela sentisse ciúme de mim, e também tinha o fato de eu estar usando claramente a Helen e eu não gostava nada de fazer isso.

Pedi pra minha irmã me dar licença por que eu queria descansar pro treino que eu teria mais tarde.

O treino foi bem leve, foi mais uma recreação pra descontrair antes da final do que um treino realmente. Ficamos por uma hora mais ou menos treinando, depois eu fui andando pra casa me arrumar pro meu encontro de logo mais a noite.

Quando cheguei em casa já era mais de sete da noite, fui pro meu quarto peguei minha roupa e tomei meu banho. Terminei e fui logo jantar, pois apesar de não gostar da ideia de estar usando a Helen ela não era nem um pouco de se jogar fora, e eu estava ansioso para encontrá-la.

Sai de casa e o relógio marcava um pouco menos que oito horas, cheguei na praça e ela já estava lá, se eu estava ansioso ela estava mais ainda. Cheguei por trás dela e botei minha mãe nos olhos dela.

- Adivinha quem é? - perguntei mudando minha voz

- Claus que coisa mais besta! – disse ela no meio de risos.

- Perto de você eu me sinto uma criança de tão bobo que eu fico! – Como eu podia ser tão sínico aquele ponto.

- E eu me sinto no céu, entre.., - Não esperei nem ela terminar de falar, e já dei um beijo nela. – Agente vai ficar por aqui mesmo?

- Eu vou até onde você for...

- Então vem cá que eu vou te apresentar um lugar.

Levei ela pra um lugar onde eu achava que seria especial, um morro que tinha uma linda vista pro rio que cortava minha cidade no céu uma lua Cheia iluminava a clareira em que nós estávamos.

Aquela não era a primeira vez que eu tinha imaginado. O lugar não era aquele, a pessoa não era aquela, a única coisa que estava perfeita era a lua e eu nunca tinha visto ela tão linda antes.

- Você me trouxe até aqui pra nós olharmos a lua? - perguntou ela querendo ir logo ao que interessava.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Traição

O carro não parou, não sei se por sorte, ou por azar. Levantei-me e andei novamente até a mureta, a ideia de me jogar ainda estava viva na minha mente e agora mais do que nunca, depois de ouvir aquela voz tinha certeza de que era aquilo que eu queria.

Um clarão.

Um raio caiu a alguns metros de onde eu estava. O clarão iluminou a escuridão a minha frente e eu vi o carro dela se afastando com velocidade pela estrada no final da ponte.

Escuridão. Não sei o que havia acontecido, mas agora nem o rio a mureta a minha frente eu enxergava mais. Virei-me para ver o que havia acontecido e percebi que as luzes dos postes haviam apagado, acho eu que por causa do raio,

Aproveitei a escuridão e fechei os olhos, me sentei ali mesmo onde eu estava. Apesar de não querer recordar a força com que aquelas imagens apareciam em minha cabeça era surreal, e não conseguia mais evitá-las.

Lá estava ele, se agarrando a ela como se há muito tempo fizesse aquilo. A intimidade entre eles era inegável e a raiva subia a minha cabeça como nunca tinha acontecido antes.

- Ordem mudou de nome agora! Realmente eu fazia outro conceito dessa palavra. – Disse alto o suficiente para que eles pudessem me ouvir.

Na hora em que ouviram a minha voz pareceram congelar, algum tempo se passou e eles se desgrudaram, virando lentamente para mim. O choque em sua voz era notável e a expressão de vergonha em seu rosto era realmente de dar pena, mas a raiva dentro de mim era maior do que qualquer outro sentimento, e mesmo ela, que conhecia tudo sobre sensações e sentimentos e principalmente sabia como provocá-los, não conseguiria mudar o que eu estava sentindo naquele momento.

- Claus, você entendeu errado ele me agarrou a força, eu não tive culpa, eu te amo! Sempre te amei, foi o Deco que me agarrou. – Ela não iria conseguir, não daquela vez, mesmo com toda aquela dissimulação eu não me deixaria ser confundido, não mais.

- Eu sei...

- Graças a deus, e você não vai fazer nada? - Ela parecia confusa com a minha reação.

- Calma, eu não terminei, eu sei que você tá mentindo, que você sempre teve alguma coisa com ele, mas eu sei que você gosta de mim, eu sei que você sentiu e ainda sente uma duvida, não esperava por isso né? - Eu tinha certeza do que eu estava falando, eu acho que eu já comentei, mas eu tenho um certo dom de perceber o que as pessoas sentem, e perceber o que ela estava sentindo naquele momento era muito fácil – Se dependesse de mim essa duvida acabava agora, pois eu não quero nada com você, e sobre a culpa dele? Ele é o menos culpado de tudo aqui, não o cause de forma tão baixa Branca.

- Claus... – ele parecia agradecido, acho que estava com um certo medo de mim, sua voz era mansa, mas não demonstrava calma e sim nervosismo – Eu... Eu agradeço por...

Minha raiva extravasou naquele momento, como ele tinha a cara de pau de falar comigo novamente? eu sinceramente não sabia, eu teria vergonha de mim mesmo se fizesse algo como aquilo. Dei um soco na cara dele com toda a minha força, foi tão forte, mas tão forte que ele caiu no chão.

- E você Vern, nunca mais, ouviu bem, nunca mais fale uma palavra se quer comigo.

- Graças a deus amor, eu sabia que você ia entender que a culpa foi dele... – ela agarrou o meu braço, e uma sensação de nojo me veio instintivamente.

- Me solta! Você realmente acha que eu acredito nessas coisas que você fala. Eu to com nojo de você... Não... – Não queria mais ficar ali, aquela situação não estava me fazendo bem, eu não tinha nenhum motivo pra ficar ali, prorrogar aquela situação só pioraria o que eu estava sentindo, virei as costas e fui embora.

- Claus, não vai, por favor... Claus... – A voz dela foi morrendo na escuridão atrás de mim a medida que eu me afastava, mas aquilo não importava mais, eu não queria ouvi-la por um bom tempo.

Não fui pra casa, continuei andando pelas ruas da cidade sem rumo, tentando esquecer,mas sem conseguir, o único pensamento que vinha a minha cabeça era de que ela sempre fora amante dele, e que o idiota tinha acreditado na fidelidade dela, tinha chegado a brigar com minha irmã, minha maior amiga, minha conselheira, eu não podia acreditar no que eu tinha feito, eu estava com vergonha de mim, não pelo chifre que eu imaginava ter sofrido, mas sim por não ter dado ouvidos as pessoas que sempre estiveram ao meu lado, que realmente me amavam, e que só queriam o meu bem acima de tudo.

Demorei mais de uma hora pra voltar pra casa, quando cheguei minha mãe estava desesperada. Abri a porta da sala e logo que entrei vi minha mãe e meus irmãos sentados no sofá, angustiados. Minha mãe correu até onde eu estava e me abraçou me batendo, tudo ao mesmo tempo.

- Nunca mais faça isso com a gente! Ouviu bem, nunca mais! – Ela chorava e sorria ao mesmo tempo. – Você me deixou muito preocupada, eu não sabia onde você estava, com quem você estava, eu pensei um monte de besteiras.

- Desculpa Mãe, eu estava andando por ai, precisava pensar um pouco, relaxar a cabeça. Eu vou para o meu quarto ok?

Ninguém entendeu nada, eu virei as costas e subi, tinha certeza que carregava o peso dos olhos deles nas minhas costas, mas não me virei, precisava sair dali, não queria que ficassem me fazendo perguntas, muito menos brigando comigo.

Bati a porta com tanta força que minhas medalhas, que ficavam penduradas atrás dela, caíram no chão. Joguei-me na cama chorando, mas não um choro sem motivo, era um choro de dor, como se parte do meu coração tivesse sido tirado, como se um pedaço de mim estivesse faltando.

Eu chorei por algum tempo, ouvi uma batida na porta e tentei me recompor o mais rápido que eu pude. Não queria que soubessem que eu estava chorando e muito menos que me vissem com lagrimas nos olhos.

- Quem é? - perguntei

- Sou eu Claus, gabbi! – A voz dela não negava que ela estava realmente preocupada comigo.

- Pode entrar.

Ela entrou e veio andando até a minha cama, sentou-se ao meu lado e simplesmente me abraçou. Como ela sabia¿ Tudo que eu mais precisava naquele momento era daquilo, um abraço. Algo que me desse forças, que me mostrasse que eu não estava sozinho.

- Claus... Eu te amo.

As lágrimas escorreram dos meus olhos, não conseguia mais segurar minha emoção, elas rolaram pelo meu rosto e caiam na palma da mão da minha irmã. Eu me deitei no colo dela, e podia ter ficado horas sem falar nada, só recebendo o carinho que ela me dava naquele momento, depois de algum tempo ela falou.

- Claus, o que está acontecendo? Você parece que perdeu a alegria de viver. – Tinha tempo que agente não conversava como antes, e tudo por causa de alguém que não merecia mais consideração do que um desconhecido.

- Alegria de viver... Isso existe? Se existe eu sinceramente não sei onde encontrar. Sabe mana... Eu nunca achei que alguém fosse me fazer sofrer desse jeito, eu acho que gostei mais dela do que de mim mesmo, acho que isso me fez mal, ninguém pode viver a vida de outra pessoa. Eu esqueci de mim mesmo, esqueci tudo que eu gostava, esqueci da mamãe, do CH, e de você. – Se eu achava que estava chorando antes era porque eu ainda não tinha me visto agora, isso sim que era chorar.

- A gente nunca esquece quem nós realmente amamos Claus, podemos deixar um pouco de lado, tentar esquecer, se esforçar ao máximo pra isso, mas elas sempre vão estar dentro do nosso coração, e nos momentos mais difíceis, em que nós realmente precisarmos delas, serão elas que nos ajudaram brigas sempre acontecem, mas brigas passam, e o que fica é o que você tira de lição delas.

- Mana você não existe sabia? Eu achei que jamais você olharia pra minha cara novamente, achei que minhas palavras tivessem te marcado, me perdoa? Eu sei que você já me perdoou mas eu quero ouvir de novo, eu não acredito ainda.

- Claus é claro que eu te perdoou, acho que agora está na hora de eu ir dormir, amanhã eu tenho meu jogo e quero jogar muito bem como você jogou hoje, amanhã eu quero você lá torcendo pra mim. – ela me deu um sorriso, um sorriso lindo, que eu nunca tinha visto no rosto dela antes, saiu do meu quarto e apagou a luz.

No meio daquela escuridão eu fechei os olhos, e dormi, um sono profundo, pesado que eu não tinha a muito tempo, e junto dele veio um sonho um sonho lindo que eu não me lembro, a única coisa que eu sabia era que ele tinha me feito muito bem.

A noite passou voando e a manhã eu acordei com o assovio dos pássaros que estavam no parapeito da minha janela. Eu me levantei e fui no banheiro como sempre, depois de tomar meu banho desci e fui tomar café com a minha família.

- Claus, você está melhor? - perguntou minha mãe que parecia ainda estar muito preocupada com a minha situação.

- To sim mãe, ontem não foi nada não já passou, - eu não estava mentindo eu estava bem, não sabia por que, mas na sentia mais a mesma tristeza que sentia antes. – Mãe onde é que está a gabbi?

- Ela foi pro ginásio, é que passaram aqui pra avisar que o jogo delas foi trocado de horário e vai ser daqui a uma hora, ai ela teve que sair as presas pro ginásio.

- Ah sim, então eu vou tomar meu café e correr pra lá. – disse enfiando um pedaço de pão na boca. – eu quero sentar na frente, bem perto do banco de reservas dela.

Terminei de comer e fui correndo pro ginásio, ele ainda estava meio vazio, as pessoas não haviam sido informados de que o jogo tinha sido adiantado e um carrinho de som passava avisando pela cidade, então logo o ginásio estaria mais cheio do que nos jogos anteriores.

Eu estava certo, antes do aquecimento de rede começar não havia mais um lugar vazio no ginásio. O jogo começou animado e a seleção Pernambucana estava ganhando com muita dificuldade da seleção de Santa Catarina, foi então que eu me lembrei de um pedaço do sonho.

Abri os olhos novamente lá estava eu sentado naquela ponte como sempre, olhando a chuva e sem esperança de viver um cachorro vira lata se aproximou e encostou a cabeça em meu colo, eu acariciei e voltei a pensar na minha morte.



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Desculpa


Gente eu não consegui (e não estou com saco) pra mudar a letra, então desculpa.