quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mais do que mil palavras

Duas decisões em dois dias não havia coração que aguentasse, aliais tinha sim, o da minha mãe, ela tinha visto o meu jogo e agora se arrumava pra ver a minha irmã, que já não estava em casa desde cedo. Eram quase quatro da tarde e desde as oito da manhã a Gabbi tinha saído de casa para se concentrar com a equipe dela, eu nem tinha a visto sair pela manha, pois tinha dormido tarde por conta da festa da vitória, e se tudo desse certo hoje seria igualzinho a ontem.

Só tinha um problema, a cada hora que se passava a distancia entre eu e Branca aumentava, logo depois da viajem ela teria que ir embora com o time dela, e eu não fazia ideia de como ficaria a nossa situação dali pra frente.

A tarde foi virando noite e às seis horas da tarde se aproximaram com uma velocidade imensa. Assim que terminei de tomar banho tive que me arrumar e sair correndo para o ginásio, todos já tinham ido e eu estava quase atrasado. Quando cheguei lá os times ainda não tinham entrado, mas não iria demorar muito.

- Claus, pra quem você está torcendo hoje? – perguntou CH.

- Eu vou torce pra ninguém, só tem time ruim nessa final. – estava segurando o riso – Brincadeira, vou torce pra quem vencer, aliais não vou torce pra ninguém, porque ai eu não crio problema nem com uma nem com a outra.

- Deixa só a Gabbi ouvir você falando que na vai torce pra ela! – ele começou a rir e comentou – Acha que é capaz dela mudar de posição só pra dar umas bolas na Branca.

- Então ninguém vai dizer nada não é! Se a mana perguntar eu torci pra ela, e se a Branca perguntar eu torci pra Branca. – comecei a rir junto do meu irmão.

- Olha Claus, - disse ele apontando para as portas dos vestiários – acho que alguma seleção vai entrar em quadra.

O ginásio inteiro levantou para aplaudir as duas seleções que saiam lado a lado do vestiário e cumprimentavam a torcida. Mandei um beijo para Branca e ela me mandou outro de volta, fazendo alguns meninos que estavam por perto ficarem me olhando com cara feia. A Gabbi parecia estar em casa, mandava beijo pra todo mundo e sabia muito bem jogar junto da torcida, logo todos estavam gritando o nome dela.

O aquecimento foi tenso, assim como o ataque à rede. Muita gritaria e nervosismo pairavam no ar. No ataque a rede a Branca cravou uma bola que eu nunca tinha visto uma jogadora do feminino atacar, e a Gabbi que estava de saída de rede nesse jogo, pois a titular tinha machucado o pé, estava atacando bem já que antes de virar libero era tinha sido uma ótima jogadora daquela posição.

O jogo começou, e como em todos os jogos femininos, o ginásio irrompeu em gritaria dos dois times e logo o clima de final de campeonato ficou evidente.

Pra um jogador de vôlei, ficar do lado de fora de um jogo é um martírio, ver alguns erros que foram cometidos e não poder fazer nada pra mudar é uma sensação horrível. O jogo estava muito disputado, com os dois times virando as bolas toda hora. O primeiro set acabou em um saque da Aline, uma das amigas da Gabbi e que tinha certa intimidade com meu irmão CH. Ela era bonita, e uma ótima jogadora, e com um belo saque que foi direto para o chão fechou o primeiro set em 30x28.

O intervalo de um set para o outro fez bem à seleção de Minas, e logo no inicio do segundo set o placar já mostrava uma boa vantagem a favor da mesma. O segundo set foi o mais fácil, mas foi também o que mai atiçou a rivalidade já existente. Já no fim do set, quando estava claro que a seleção mineira venceria o set, minha irmãzinha deu um bloqueio que voltou direto para a quadra de minas e gritou na cara da atacante, se me permite comentar isso não foi uma coisa muito inteligente a se fazer, mas como ela era minha irmã eu não esperava uma coisa muito diferente dela.

Daquele ponto pra frente o jogo ficou um tanto nervoso, as duas equipes estavam fazendo uma verdadeira final. O terceiro set foi ainda mai disputado do que o segundo, com muitos pontos de bloqueio, e com duas cravadas seguidas da Branca, além é claro, dos dois peixinhos mais lindos que eu já tinha visto a Gabbi dar. Bom, se me pedissem pra dar aquele set pra quem eu achasse mais merecedor eu realmente não saberia o que fazer, mas como um jogo de vôlei não há empate a seleção mineira saiu vitoriosa naquele set.

O quarto set foi o mais emocionante de todos. Durou mais de cinquenta minutos, com ótimos ralis e com lindas jogadas e como não podia ser diferente foi o set que levou o jogo pro quinto e decisivo set. A seleção pernambucana ganhou em uma virada impressionante no saque da Gabbi e da Aline, ganhando de 34x32.

O ultimo set foi emoção do inicio ao fim, apesar de não ter sido o mais emocionante, foi com toda a certeza, o que teve as melhores jogadas, e os lances mais curiosos. Logo no inicio, a Helen acertou uma bola no rosto da Aline, e sinceramente, se você quer criar inimizade com alguém, que essa pessoa não seja a Aline, porque quando ela se estressa não tem quem segure. Um ponto antes das equipes mudarem de lado, a levantadora de Pernambuco levantou pra Gabbi na saída e ela cravou a bola no rosto da Branca, que estava bloqueando, as equipes viraram de quadra, e a Branca não deixou por menos, enfiou uma pancada na bola que fez a libero da seleção pernambucana cair para trás.

O ultimo ponto foi sem a menor duvida um dos mais bonitos do jogo, a Helen mandou uma pancada da linha de saque, que a Gabbi passou na mão da levantadora que botou uma bola para a meio, ela sentou uma pancada na bola, mas deu defesa. A defesa foi quebrada e a levantadora teve que se deslocar para levantar, a Branca estava na rede e deu um tiro pro lado pernambucano, que usou sua principal característica, a defesa, para segurar a bola, a mana pediu que a bola fosse levantada nela da linha dos três, o que acabou acontecendo, mas a bola mais uma vez não caiu no chão.

O rali continuou por mais uns trinta segundos até que em uma recuperação de pingo, a seleção mineira conseguiu o contra ataque e a bola foi colocada pra Branca, que não conseguiu encaixar a bola e mandou um avião que foi parar na arquibancada, cedendo ao time da casa o titulo de campeonato brasileiro.

A vibração no ginásio foi impressionante, foi uma festa ainda maior do que a do dia anterior. Aquele era o primeiro titulo brasileiro que a seleção feminina de vôlei de Pernambuco conseguia. Minha irmã estava realmente louca, corria pela quadra gritando, e chorando muito. Meu irmão e minha mãe já tinham pulado a grade que separava a quadra da torcida e estavam correndo pra abraçá-la. Eu estava feliz por ela, até que encontrei uma imagem familiar sentada em um canto com a cabeça entre as pernas e parecia chorar muito, era a Branca.

Fiquei na dúvida quanto ao que fazer, mas resolvi dar os parabéns a minha irmã antes de qualquer coisa. Fui andando depressa e a cumprimentei, mas ela estava realmente fora de si, e nem me deu muita atenção, de certa forma eu até achei aquilo bom, pois eu teria mais tempo pra ficar com Branca sem a Gabbi ficar triste comigo por não estar do lado dela naquele momento.

Quando cheguei ao canto da quadra, e me sentei ao lado dela, não percebi nenhum movimento, mas eu sabia o que era perde um campeonato importante e resolvi não me meter, alguns minutos se passaram e ela levantou a cabeça.

- Como você está? – perguntei.

- Não fala nada, só me beija. – ela me pediu, e não precisou pedir mais uma vez.

Ficamos ali, naquele canto da quadra por um bom tempo, quando paramos de nos beijar e abrimos os olhos, o ginásio já não estava tão cheio, e a cerimônia de premiação já estava para começar. Ela não estava com a menor vontade de ir naquela premiação, diferente da Gabbi, é claro, que estava completamente animada e não parara de comemorar até o momento. Eu levantei e peguei nas mãos da Branca pra ajudá-la, ela levantou sem a menor vontade e só foi ao pódio porque eu pedi.

- E agora? O que vocês vão fazer Gabbi? – perguntei eu depois da premiação, enquanto a Branca estava no banheiro.

- Acho que vamos à pizzaria do Zé, as meninas ainda estão decidindo.

- Você ligaria se eu não fosse pra lá com vocês, ou aparecesse depois? – perguntei.

- Eu acho que tem gente que precisa mais de você nesse momento não é? Pode ficar com ele Claus, - ela realmente tinha mudado. – eu não ligo, sinceramente, mas se der tempo, aparece lá depois, ok?

- Pode deixar, - concordei – E mana, eu não sei se você percebeu mas tem um outro menino na nossa família que ta gostando de alguém.

- É... Eu acho que eu já percebi isso também, ele não tira o olho dela. – Ela comentou dando risada, e olhando na direção do CH.

- Tenta ajudar ele então, as vezes o dia termina bem pra todos nós. Quem sabe?

- Vou fazer o possível e o impossível pra isso acontecer.

- Que bom, então acho que te encontro mais tarde lá no Zé, mas agora eu tenho que ir que a Branca já deve ta saindo pro Hotel. – me despedi com um beijo. – E parabéns pela vitória! – acrescentei enquanto saia.

Encontrei a Branca do lado de fora do ginásio conversando com a Helen e com outra amiga dela. Chamei-a pra um canto, pois não queria ficar olhando para o rosto da Helen, e ficar perto dela não era uma situação que me animava muito.

- O que você vai fazer agora? – perguntei pegando nas mãos delas.

- Eu não tenho plano nenhum, estava pensando em ir pro meu hotel, descansar, e amanhã... – ela parou de falar como quem tinha medo do que estava prestes a dizer.

- Amanhã você vai ter que ir embora não é?

- Infelizmente sim, - ela disse triste – eu não posso ficar longe da minha família, tenho meus estudos pra terminar, o resto da minha vida é em Minas Claus, e você sabe disso, não sabe? Você sempre soube que eu teria que ir embora.

- Eu só não esperava que fosse ser tão cedo.

- Nem eu.

- E você esta realmente achando que eu vou deixar você ir pro hotel no último dia que eu posso te ver? – disse eu olhando dentro dos olhos dela.

- E o que você está querendo fazer? – apesar de saber muito bem a resposta. – Me fala?

- Um gesto vale mais que mil palavras. – beijei-a e a mesma emoção do meu primeiro beijo nela voltou. – Vem, tenho que te mostrar um lugar.

- Onde?

- Quando a gente chegar você vai saber. A presa é inimiga da perfeição.

Andamos por algum tempo, parando em umas esquinas pra beijar, e olhar as estrelas, que naquele dia estavam perfeitas. A Lua cheia continuava no céu, e quando chegamos ao pé da mesma montanha em que eu havia estado alguns dias antes, olhamos para o céu e eu disse.

- Eu te daria a lua se você quisesse, e eu pudesse, mas já que não posso você aceita um beijo meu?

- Seu bobo, isso você não precisa nem pedir, você sabe.

Nos beijamos e continuamos subindo a montanha, quando chegamos no lugar que eu queria, nos sentamos, e ficamos olhando a lua, ela era linda só não era tão linda quanto a Branca. Eu estava pensando mil coisas quando ela falou.

- Foi aqui que você trouxe ela, não foi?

- Ela quem?

- Você sabe de quem eu estou falando, a Helen é claro, não foi aqui que vocês transaram?

- Bem, foi... Foi aqui que eu trouxe ela sim, eu acho que esse é o lugar mais bonito da cidade, mas... Nós não transamos, eu não tive coragem de fazer isso com ela, eu estaria usando ela, e quando eu estava aqui com ela, eu só pensava em você e em te trazer aqui.

- Vocês não... – ela estava constrangida em tocas naquela assunto.

- Nunca, nem com ela nem com ninguém, eu sou virgem. Mas a gente podia parar de falar dela e falar em nós.

- E o que é que a gente tem pra falar? Não foi você que disse que um gesto vale mais do que mil palavras? Então deixa de falar, e faz.

- Já que você ta pedindo... – eu parei e olhei no fundo dos olhos dela – Eu vou fazer desta, a noite mais feliz de toda a sua vida.





Mais alguns pássaros voaram longe, o medo me consumia mais do que nunca e minha vontade de me jogar daquela ponte estava abalada, eu estava relembrando o momento mais feliz que eu viveram em muito tempo, desde que eu tinha conhecido a Branca meu maior sonho tinha se tornado ter ela por inteiro, e naquela noite meu desejo tinha se realizado.

A chuva estava passando, mais ainda assim não era possível enxergar muita coisa a minha volta, a neblina estava muito densa e a minha visão estava comprometida. Os pingos de chuva já não disfarçavam mais as minhas lagrimas.

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Desculpa a demora gente, eu estava sem internet e não deu pra postar antes, espero que gostem, domingo a noite posto o outro.