sábado, 11 de setembro de 2010

O Grande Dia.

Aquele não era eu, eu nunca deixaria de encarar a morte, eu tinha certeza do que eu queria, eu não podia mais viver, ninguém sentiria minha falta e muito pior, ninguém me procuraria.

Voltei pra ponte, sentei-me no mesmo lugar de alguns segundos atrás, e comecei a refletir. Cheguei a uma conclusão, era claro que eu estava confuso, não sabia ao certo o que eu queria, mas com certeza a vontade de tirar minha própria vida ainda esta viva dentro de mim.

A noite passou rápido, acordei e segui a mesma rotina de todos os dias. Sentei a mesa do café e todos estavam ansiosos, aquele clima não me deixava nada bem, o jeito como eles me olhavam me deixava mais nervoso do que eu estava o dia inteiro.

Logo que terminei de tomar meu café fui pra praça relaxar um pouco. Sentei no banco e olhei a minha volta, bem no canto da praça estava ela, no mesmo lugar que a minha irmã tinha ficado com um menino no dia anterior.

Minha cabeça estava cheia de duvida, eu não sabia se deveria ir até lá e pedir desculpas por tudo que eu tinha falado na cara dela. Mas naquele momento eu não queria mexer com isso, não me ajudaria em nada, só me atrapalharia na hora do jogo.

O tempo passou rápido enquanto eu a admirava, as horas voaram e quando eu fui ver já era quase a hora do almoço. Deixei a Branca lá, sentada, debaixo daquela árvore e fui pra casa almoçar. O almoço foi tão tenso quanto o jantar, não que meus familiares quisessem que eu perdesse ou não confiassem no nosso potencial, mas o medo de que tudo que eu sonhei em alcançar um dia, não ser concretizado estava realmente atrapalhando o clima dentro da minha casa.

O tempo passou e quando o sino da igreja já badalava duas horas da tarde eu fui pro ginásio para me reunir com meu time. O jogo começava as cinco horas da tarde, e foram mais de duas horas e meia de apreensão antes que o jogo começasse, e quando começou o meu nervosismo não diminuiu nem um pouquinho.

O aquecimento foi a pior parte do jogo, meu nervosismo crescia a cada ataque a rede que eu dava, apesar de estar acertando todos. O jogo começou muito equilibrado e com muitos ralis, eles começaram na frente e terminaram o primeiro tempo técnico ganhando por um ponto de diferença, o esporo que nosso técnico deu parece que surtiu efeito e no primeiro ponto depois do tempo o levantador do meu time levantou uma bola perfeita e foi só eu cravar ela no chão. Pode até parecer que não, mas cravar uma bola em um jogo daquela importância era realmente um remédio para os nervos.

Depois daquele ponto o jogo melhorou pro meu lado e a nossa seleção fechou o segundo tempo técnico na frente do tempo, estávamos ganhando de 16X13, e a torcida gritava cada vez mais a nosso favor.

O que a gente não esperava que acontecesse era que o Vern ainda se recuperasse naquele set, e muito menos que ele fizesse a quantidade de pontos que ele fez, infelizmente pra nossa seleção o primeiro set acabou de 26x24 pra seleção de Minas Gerais.

O jogo estava muito bom, alto nível, digno de um jogo de seleção brasileira. Só tinha um problema, eles estavam na frente, e nós não podíamos dar esperanças a uma seleção daquele nível. O segundo set começou e o nosso time parecia morto em quadra.

A seleção mineira fechou o primeiro tempo técnico em 8x3, e eu era o único que tinha feito ponto na nossa equipe. A equipe estava tão abatida e nervosa que o nosso técnico teve que gritar na cara de cada um de nós, pelo menos isso fez efeito... O jogo continuou, e como eu era o melhor jogador do nosso time em quadra, a maioria das bolas levantadas vinha na minha direção e eu estava impossível nesse jogo, não tinha errado nenhum ataque.

Depois da lavada que nós tomamos até o primeiro tempo técnico, parecia que o time tinha começado a reagir, e fechamos o segundo tempo na frente vencendo de 16x12 graças ao meu saque que tinha feito 7 pontos seguidos.

Os dois times estavam mais nervosos a cada minuto e o jogo já se aproximava do final do 4 set, a seleção mineira vencia de 24x22, porem estávamos ganhando a partida de 2x1.

O saque era deles, e quem estava sacando era o Vern, um saque viagem e muito forte, o nosso libero deu um passe quebrado e o levantador jogou a bola do fundo para mim...Aquele foi o ponto mais bonito do jogo até o momento, eu pulei da linha dos três e passei o peito da rede, alonguei o ataque mas com muita força e a bola explodiu no peito do Deco e caiu no chão. O ginásio explodiu em festa, todos gritavam pelo belo ponto que eu havia feito, e eu gritava junto com eles... Pena que não tenha adiantado muita coisa. Fomos para o saque e a seleção mineira fechou o set em 25x23.

O tié break foi o set mais difícil de todo o jogo, o placar ficou empatado em quase todo o tempo. Estava de 10x10, quando eu entrei na rede, pedi minha bola mais rápida, e fui louco pra cravá-la na cara de qualquer um daqueles mineiros, mas o Vern estragou o meu prazer e a bola desceu com tudo no chão, foi o toco mais bonito da historia do campeonato brasileiro de vôlei. O jogo continuou normalmente, e o tié break estava de 14x14, e o saque era nosso.

Breno, o nosso ponteiro, foi para o saque, mas não foi um bom saque o passe foi na mão do levantador adversário e a equipe de minas fez o ponto, o jogo continuou empatado por um bom tempo e quando eu entrei no saque já estava de 20x20.

Eu estava nervoso, não podia errar, o titulo do campeonato brasileiro dependia do meu saque, e aquele era um dos meus principais fundamentos.

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! O juiz apitou...

Tum Tum, Tum Tum, Tum Tum. Meu coração disparou, joguei a bola pra cima e corri, bati na bola com toda a força que eu tinha, pra minha surpresa ela pegou muita velocidade, e foi quase que um saque perfeito. Ace. 21x20, a gente estava na frente, agora só faltava um ponto. Me concentrei novamente, fiz o mesmo movimento, mas dessa vez o libero adversário salvou a bola, o levantador colocou a bola onde ele queria e o Deco cravou na minha frente.

O saque era deles, mas o número 7, que estava no serviço errou. Ponto nosso, 22x21. Pedro, um do meios do nosso time foi para o saque, um saque flutuante, o libero de minas colocou a bola na mão do levantador novamente e a jogada se repetiu, ele chutou a bola na ponta e o Vern apareceu sozinho na minha frente, abri o peito e esperei a bola. Foi o que aconteceu, a bola bateu com tudo no meu peito, cai pra trás e só ouvi a torcida gritando, a bola tinha passado pra quadra adversária, levantei e fiquei esperando outra bolada, a bola foi novamente pra Vern, mas dessa vez o bloqueio estava montado na diagonal, ele desceu o braço novamente no corredor, na posição em que eu estava, mas essa não explodiu no meu peito, eu defendi e ela subiu.

- VEEEEEEEEEEEEEEEEM! – gritei com muita vontade de atacar.

E ele veio, Léo, o levantador do nosso time levantou a bola do jogo pra mim, ele inverteu uma bola da entrada da rede para a saída, a bola ficou perfeita, e eu subi do fundo sentando o braço, dessa vez não teve Vern que me parasse, a bola desceu e bateu antes da linha dos três. Eu desmontei chorando.

O meu maior sonho, o meu sonho de criança tinha se realizado, eu era campeão brasileiro, e tinha feito o último ponto do jogo. Eu estava chorando, levantei do chão e gritei.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! É CAMPEÃOO! – o ginásio inteiro me seguiu em um grito de “é campeão, é campeão”.

Sai gritando pela quadra feito um louco, não um louco qualquer, mas sim o mais feliz dos loucos. Pulei em cima do meu técnico e o abracei, se eu estava ali era graças a ele, ele que me ajudará desde que eu era pequeno, ele tinha sido o meu único técnico no vôlei.

O pódio foi montado em menos de 20 minutos, e ninguém deixou o estádio, primeiro subiu a seleção capixaba que tinha ficado em 3º lugar, depois a seleção mineira, e naquele momento quem subiria éramos nós. Primeiro subimos todos juntos e depois eu fui para frente receber a taça do presidente da CBV, ele pegou o microfone falou algumas palavras que eu não prestei atenção e me entregou o troféu. Na hora que eu encostei naquele ferro frio, a primeira coisa que eu fiz foi gritar.

- DENISE EU TE AMO! – e então todos os meus companheiros de equipe estavam pulando em cima de mim para tocar no troféu.

Depois de passar de mão em mão e todos nós termos pego a medalha, eu tomei o troféu em minhas mãos e comecei uma volta olímpica, corri por toda a quadra, e quando passei na frente do portão eu vi a Branca saindo e olhando para trás.

Eu não podia deixar aquela oportunidade passar, dei a taça na mão do Pedro e corri atrás dela, quando a vi ela estava abrasada, conversando com o Deco, mas eu não estava nem ai, chamei ela assim mesmo.

- Branca! Branca! – Ela virou e me perguntou silenciosamente o que era – Você pode falar comigo?

- Posso sim, um segundo. – ela se despediu do Vern com um selinho, virou as costas pra ele e veio se encontrar comigo. – O que é Claus? Se veio aqui pra jogar alguma coisa na minha cara você perdeu o seu tempo.

- E por que eu faria isso com você? – perguntei espantado com a recepção que eu havia tido.

- Porque você disse que ama uma tal de Denise ai, porque você ganhou o campeonato em cima o meu estado e por muitos outros motivos. – eu comecei a rir e ela não estava entendendo nada. – De que você está rindo?

- Você tem ciúmes até da minha mãe agora? – ela fez uma cara de confusa – Branca, Denise é o nome da minha mãe.

- Ah tá, eu não sabia, desculpa? – ela estava ficando vermelha

- Não tem problema não, mas não precisa ficar com ciúme não. – Era agora ou nunca mais. – Se você disser que sim... Você vai ser muito mais amada do que ela. – ela não falou nada – Quer namorar comigo?

- Cla... Claus, eu... Eu não posso abandonar o Venr sem antes falar com ele. – ela parecia triste, mas a resposta dela me parecia com um não.

- Isso quer dizer não então?

- Não, isso quer dizer mais do que nunca. – a gente se beijou ali mesmo, no meio da rua, e foi o beijo mais bonito da minha vida, no fundo eu sabia que seria muito difícil esse namoro ir pra frente, mas eu estava disposto a mover céus e terras por ela.

Levei-a pra dentro do ginásio, dessa vez eu queria que minha mãe e minha irmã fossem as primeiras pessoas a saberem. Eu sabia que ela estava com medo, minha irmã nunca gostaria dessa ideia, pelo menos era isso que eu esperava que acontecesse.

- Mãe, Gabbi, CH. – chamei eu – Essa daqui é Branca, a menina que eu amo e com quem eu estou namorando a partir de hoje, e nada que vocês façam vai muar isso.

- Claus, você sabe que eu sempre te apoiei em tudo que você fez, e não vai ser agora que vai ser diferente, ainda mais sendo sua namorada essa menina perfeita.

- Mas já tem dono tá CH! – disse rindo.

- Ah filho, pra mim o que for melhor pra você está bom. Se você acha que o melhor pra você vai ser ficar junto dela, eu te dou todo o meu apoio.

- Clau, se você quer ficar com ela, sinceramente, a partir de amanhã eu viro a melhor amiga dela, mas só depois do nosso jogo.

Apesar da recepção da Gabbi não ter sido das melhores eu estava animado quanto ao inicio do meu namoro, a aceitação da Branca estava melhor do que da primeira vez que ficamos juntos, ao menos dessa vez minha irmã não estava implicando com cada passo que eu dava.

O maior barulho que eu ouvirá desde a hora que eu chegará na ponte foi aquele. O medo dominava meu corpo, a adrenalina liberada me deixava cada vez mais ligado na situação ao meu redor, e percebi que os animais estavam começando a se distanciar da estrutura da ponte, o que não era nem de longe uma boa noticia.