terça-feira, 27 de julho de 2010

Perdão

Alguns dias se passaram e com eles muitos jogos também.
Aquele dia tinha tudo pra ser bom, teríamos um jogo muito importante, se ganhássemos aquele jogo estaríamos na final do campeonato brasileiro.
Algumas semanas já haviam se passado e o que eu sentia por Branca não parava de aumentar, ao mesmo tempo que eu estava muito feliz por tê-la ao meu lado eu estava ficando mais triste por saber que ela iria embora dali a três dias.
Eu não podia acreditar naquilo eu não podia crer que ela iria embora e me deixaria ali com todo aquele amor me destruindo por dentro, e ao mesmo tempo me fortalecendo. Mas agora eu não podia pensar nisso tinha uma semifinal de campeonato em minhas mãos e tudo que eu mais queria era vencer, nem todo amor do mundo conseguiria tirar aquilo da minha mente.
Acordei cedo, logo que o sol raiou, fiz as mesmas coisas de sempre, pelo menos as mesmas coisas que eu fazia ultimamente, passei direto pela Gabbi, sem nem cumprimentá-la e entrei no quarto do CH pulando em cima dele.
- Acorda moleque, já tá na hora de você ir pra escola que vida boa é essa – Disse pulando em cima da cama dele.
- Sai daqui Claus, eu to de férias, me deixa dormi vai, que horas são? - aquilo que saia da boca dele nem parecia ser uma voz de tão arrastada que era, ele realmente estava com fome, mas eu não ia deixá-lo em paz até que ele levantasse dali.
- Já são seis e meia, tá na hora! – Disse rindo da cara de nervoso que ele fazia. – Eu vou tomar banho, e se quando eu voltar você ainda estiver ai deitado eu vou tacar um...
- Claus para com isso, deixa o menino dormi em paz, vai fazer suas coisas. – Disse minha mãe olhando com cara feia da porta. – Se fosse ele fazendo isso com você, ele já teria levado uns bons tapas que eu te conheço, então para de encher o saco dele e sai daí.
Resolvi obedecer a minha mãe, meu irmão levantaria daquela cama com certeza. Fui até o banheiro tomar um banho pra espantar aquela preguiça que tomava conta do meu corpo todo dia pela manhã.
- Claus! – Ouvi a voz do meu irmão gritando do lado de fora do banheiro.
- O que é CH? Eu não acabei ainda, espera um pouco! – Todo dia de manhã era a mesma coisa, ele batia naquela mesma porta me mandandoeu andar rápido, e hoje não seria diferente.
- Eu não quero entrar ai, é que tem alguém lá na porta, e acho que você gostaria de atender...
- Quem é que está lá? - fiquei esperando pela resposta que não chegou, então resolvi sair logo do banho, e ir ver quem estava a minha espera.
Lá parada no portão de minha casa estava ela, linda como sempre, mas não imagina o motivo que a tinha levado a ir a minha casa, ela sabia que minha irmã não gostaria de vê-la.
- Branca? - Disse sem esconder o espanto em minha voz – O que faz aqui?
- Nossa Claus, parece até que está espantado em me ver, se estiver eu posso voltar depois. – Disse ela me fazendo sentir mal.
- Não, não é isso, entre, vamos lá em cima no meu quarto.
Assim que entrei em casa com ela minha irmã passou por nós e saiu, apresentei Branca a minha mãe e subi para o quarto. Sentei na cama junto a ela, e perguntei.
- Então, o que fez você vir aqui a essa hora da manhã? - Perguntei curioso.
- Claus, tenho que conversar serio com você. – Ela tinha um tom triste na voz.
- Fala, pode falar, estou aqui pra te ouvir, estava com saudade de você, não te vi ontem, você não apareceu.
- É que eu estava criando coragem pra te dizer o que eu vim falar. – O jeito com que ela falava estava me deixando tenso. – Meu técnico, ele deu uma ordem a todos nós do time...
- Sim, e o que eu tenho ah ver com essa ordem? Que ordem foi essa?
- Ele nos proibiu de ter qualquer relação com outros atletas, relações... Amorosas, se você me entende, ou seja, eu e você... Nós... ér... não vamos poder mais ficar juntos. – Ela disse isso com lagrimas nos olhos, e eu...Eu não tinha palavras pra dizer naquela hora, as lagrimas rolavam pelos meus olhos como os raios de sol que invadiam meu quarto.
- Mas... Você... Não vai, fazer... Fazer isso. Vai? - Eu perguntei já sabendo a resposta, se ela não fosse obedecer aquela ordem nunca teria ido até lá para me contar.
Acho que a única coisa que eu podia fazer naquele momento era chorar, nada mais era possível, eu estava paralisado, congelado. Ela olhou pra mim e saiu correndo do quarto, a única coisa que ouvi foi a porta bater e minha mãe subir correndo.
- Filho? Claus! O que aconteceu? Claus? Fala comigo! – Ela não parava de gritar, estava realmente preocupada comigo, mas na posição que eu tava eu não conseguiria nem me mexer, muito menos falar.
Fiquei alguns minutos parado pensando, até que reuni todas as forças que eu tinha e falei.
- Não é nada não mãe, não precisa ficar preocupada, é que eu e a Branca, isso... Isso não existe mais. Acabo.
Eu me levantei, peguei minha mochila e sai de casa. Tinha que achar alguma coisa pra fazer, pensei em ir pro ginásio mas ela podia estar lá e eu não queria encontrá-la, então fui pra pracinha, tinha uns amigos da seleção jogando vôlei e eu resolvi jogar junto com eles para me distrair.
Fiquei algum tempo jogando, até chegar a hora do almoço quando eu teria que parar, pois deveria descansar para o jogo de mais tarde.
Depois do almoço fui me concentrar no vestiário do ginásio, fiquei ouvindo musica e tentando esquecer tudo que tinha acontecido. Fiquei lá, sozinho, por mais de uma hora até que alguém aparecesse, logo todos os meus companheiros estavam reunidos, cada um no seu canto, concentrando para o jogo.
Cerca de meia hora antes do jogo um dos meus fones caiu, e como eu já não aguentava mais ouvir musica eu chamei a atenção de todos.
- Se a gente está aqui, é porque a gente merece, vocês concordam? - Todos balançaram a cabeça – E não só nós, como todos que virão aqui daqui a pouco sabem que nós podemos ir muito mais longe do que essa semifinal. Então vamos pra cima deles com tudo, a gente vai ganhar, e mostrar pra eles quem é que manda aqui. – Todos que estavam dentro do vestiário começaram a gritar, e o a se arrumar pro aquecimento.
Eu nunca tinha me sentido tão bem antes de um jogo, nada podia me atrapalhar, eu tinha certeza de que eu voaria naquele jogo. O meu aquecimento foi perfeito, na rede eu cravei todas as bolas, isso só aumentou a minha confiança.

O jogo começou e como eu esperava estava sendo o jogo mais difícil até o momento, mas eu estava jogando muito bem. Estava com cem por cento de aproveitamento, todos os meus ataques tinham se convertido em pontos.
O primeiro set estava quase na nossa mão, a nossa defesa jogou a bola pra cima, o levantador botou uma ótima bola pra mim e eu vim voando da linha dos três metros por cima do bloqueio, a bola foi direto pro chão sem chance de defesa pra equipe do Espírito Santo, que era nossa adversária.
O jogo não vinha sendo fácil, e o primeiro set tinha acabado de 25 x 23 pra nós, o segundo estava caminhando pro mesmo resultado, e foi o que aconteceu, o placar foi o mesmo, e o último ponto também foi meu.
Então começou o terceiro set, aquele era o set que nos separava da final, eu estava louco de vontade de acabar aquilo logo e ir pra arquibancada ver quem seria o nosso adversário.
Foi quando aconteceu.
Eu vi passar pela porta do ginásio ela, Branca. Meu coração gelou, tudo que eu estava sentindo pareceu mudar completamente, senti uma onda de insegurança, nervosismo, mas resolvi voltar pro jogo.
O set começou bem, apesar de eu ter errado o meu primeiro ataque a gente estava ganhando de três á um. O set continuou e meu aproveitamento não tinha aumentado muito, de todos os ataques que eu dei apenas um passou do bloqueio, e eu não tinha como negar que vê-la não tinha me feito bem.
Chegou o tempo técnico, e meu técnico me chamou pra conversar.
- Claus, o que está acontecendo? Seu aproveitamento caiu drasticamente, vou te tirar um pouco OK?
Eu não respondi, na verdade não tinha resposta, eu sabia que aquilo era o melhor pra equipe, mas ao mesmo tempo eu não queria sair nem um segundo sequer, mas eu aceitei a opinião dele. O jogo recomeçou, e eu sai de quadra, quando fui para o banco ouvi alguém me chamando.
- Claus, Claus.
Olhei pra ver quem era, parada acima de mim nas arquibancadas estava a minha irmã, e eu já ia me virar de volta por jogo, pois não queria brigar, quando ela disse.
- Eu não quero brigar com você, só queria que você soubesse que eu te amo, e que o que eu fiz foi uma estupidez eu tenho que aprender a te respeitar. – Eu não respondi, mas sorri pra ela.
As palavras da minha irmã me deram força novamente e eu voltei a confiar em mim, chamei meu técnico onde eu estava e disse.
- Naldo, eu melhorei já, estava passando meio mal, mas se precisar eu melhorei, só queria que soubesse.
O terceiro set foi deles, mesmo com a minha saída a seleção estava abalada e a derrota foi inevitável, mas no quarto set o Naldo disse que me colocaria novamente, e como eu era o capitão e todos costumavam me ouvir decidi falar.
- Eu sei que não dei um bom exemplo no último set, mas eu estava me sentindo mal, eu espero que eu volte, e se eu voltar vamos ganhar esse set, e se eu não voltar vamos ganhar do mesmo jeito. – Todos juntamos nossas mãos no meio e gritamos o grito de guerra, os aplausos surgiram em massa no ginásio, a multidão que acompanhava o jogo gritava eufórica.
Logo que o set começou eu chamei o jogo pra mim, na primeira bola do jogo eu dei um ataque tão forte que a bola deixou uma marca vermelha nos barcos do libero, logo depois daquele ponto eu apontei pra minha irmã, pois se aquilo estava sendo possível era por causa dela.
O quarto set foi o mais fácil do jogo todo, e ganhamos com facilidade. Eu estava muito feliz, nem pensava mais na Branca. Sai de quadra e me juntei a minha família e a meus amigos na arquibancada.
A segunda semi-final foi entre a seleção mineira e a seleção catarinense. Foi um jogo bom e a seleção mineira ganhou de três sets a dois, o amigo da Branca o Deco, ele jogava muito bem e fez vários pontos no jogo.
Minha mãe foi pra casa na frente com meu irmão e eu e a Gabbi ficamos pra trás, eu por que queria conversar com o Vinicius, o levantador do meu time, e a minha irmã por que estava doida pra falar com um menino que eu não fazia ideia de quem era.
Vinicius era da minha cidade e era um dos meus melhores amigos, ele era o levantador titular da seleção pernambucana e tinha percebi que algo vinha acontecendo comigo desde hoje mais cedo.
Ficamos algum tempo conversando, na verdade foi mas ele me ouvindo e eu falando, mas era disso que eu precisava. Precisava de alguém que me ouvisse, sem reclamar do que eu tinha feito ou iria fazer, e isso o Vinicius sabia fazer, e muito bem.
- Cara, já ta ficando tarde, eu vou indo, até amanhã, e brigado por meu escutar. – Me despedi dele, virei as costas e sai atrás da minha irmã.
Não foi muito difícil de encontrá-la, mas quando á achei não quis atrapalhar o que ela estava fazendo e fui embora dando um aceno de cabeça.
Minha casa não ficava muito longe do ginásio, na verdade minha casa era perto de tudo, até por que em uma cidade daquele tamanho não era muito fácil haver algo longe.
Andei alguns minutos admirando a Lua Cheia que brilhava lá em cima no céu, cheguei a esquina e virei, vi algo que preferia que nunca tivesse visto, mas eu vi.






Se aquela parte não seria a mais difícil de lembrar, seria uma das mais difíceis, eu não queria passar por aquilo novamente apesar de saber que era preciso.
Levantei-me decidido a não lembrar daquilo e acabar de uma vez por todas com aquela dor que me corroia por dentro, aquela dor que consumia toda a minha felicidade, se é que ainda restava algum pingo ali dentro.
Agora eu estava decidido a me jogar passei pro outro lado do parapeito da ponte, olhei lá pra baixo e vi o forte rio passando rapidamente por baixo de mim.
Um barulho. Um carro, percebi que ele se aproximava, voltei pro lado da ponte que eu estava antes e me escondi atrás da mureta que servia para separar a parte dos carros da parte dos pedestres.
- Claus! Claus! – Aquela voz, eu não queria mais ouvi-la, nunca mais, ela me fazia lembrar. Lembrar de coisas que eu nunca queria ter vivido.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tudo por amor.

Como sempre acontece em campeonatos brasileiros de vôlei, o dia foi muito movimentado, com muitos jogos, brigas entre torcidas, entrevistas, etc.
Naquele dia, eu não teria jogo, já que minha chave tinha feito os primeiros jogos da abertura, mas ela tinha, e eu estava louco pra vê-la jogar. Quando deu o horário do jogo, eu fui ao ginásio, e me sentei bem lá no alto, para que ela não pudesse me ver, e assim manter a concentração.
Aquele não seria um jogo muito difícil pra seleção mineira, era contra a seleção do Pará, que não tinha a menor tradição no vôlei, mas eu queria ver, não podia faltar a um jogo desses, o jogo da mulher que eu amava.
O jogo começou fácil, com muitos erros da equipe do Pará, como já era de se esperar, e logo já estava de dois sets a zero, com a seleção mineira dando um show.
O jogo já estava se tornando desinteressante e eu nem estava olhando pra quadra, até o momento em que uma das amigas da Branca acertou um ataque no meio do rosto da levantadora adversária. Isso não foi o melhor que podia ter acontecido, e fez a seleção paraense crescer no jogo.
No ponto seguinte a Branca foi para o saque, um bom saque, mas não o suficiente pra quebrar o passe do time paraense, a levantadora colocou a melhor bola do jogo para a melhor atacante da seleção, e ela virou a bola com muita força, na direção da Branca. Aquilo me deixou com muita raiva, a bola bateu no peito dela e subiu, mas ninguém foi atrás da bola, e meu coração pareceu parar por um momento.
Banca estava caída no chão desacordada, “o que estaria acontecendo” de onde eu estava não tinha uma boa visão, e aquele monte de gente em volta dela não melhorava muito as coisas.
- Helen! Helen! – gritei o mais alto que eu pude.
Ela se virou e pediu para eu esperar um pouco, mas tudo que eu menos queria naquele momento era esperar, queria saber como ela estava, o que estava acontecendo. Eu já estava a mil, quando ouvi aquele comentário.
- Se ela precisar, eu faço um boca a boca nela! – era um moleque, que provavelmente era de alguma seleção, pois eu nunca o tinha visto na cidade.
- Você ta ficando doido, quer briga comigo é¿ - perguntei a ele doido pra descarregar minha raiva em um soco.
- Realmente faria uma grande diferença querer brigar com você. Você não protege nem a sua mulher de uma bola, quem dirá se proteger de mim. – o tom de ironia na voz dele me deixou extremamente enraivecido.
Fechei o punho me controlando pra não virar a mão naquela cara de safado que ele tinha, virei às costas contando até dez, mas ele realmente estava afim de brigar.
- O gostosa, já que seu namoradinho aqui não consegue te manter acordada, deixa que eu mesmo faço isso!
Quando percebi o que eu tinha feito tudo já havia acontecido, e ele estava caído no chão, com o nariz sangrando e alguns amigos, preocupados, o ajudando.
- Ei você, - falei olhando pra um dos amigos dele – faz um boca a boca nele ai agora, senão eu acho que ele não levanta mais não, e se você não souber acho que ele ficará muito feliz em te ensinar. – Disse isso com todo o sarcasmo do mundo na voz, e voltei pro alambrado pra ver como ela estava.
Fiquei ali esperando por algum tempo, e nada de alguém me dizer o que estava acontecendo, então tomei uma decisão, fui até a cabine do comitê organizador e pedi a eles que me deixassem entrar para ver o que estava havendo, pois ela era minha “namorada” e eu achava que tinha esse direito.
É, eles não me deixaram entrar, mas pelo menos eu consegui saber que estava tudo bem com ela e que ela já não estava mais desacordada, mas teria que ser levada ao hospital para ver se realmente estava tudo bem.
O jogo continuou e eu fui seguindo a ambulância, não demorou muito tempo, e o Dr. Friz deu alta a Branca, logo que ela saiu, eu fui falar com ela, não estava mais me agüentando de ansiedade, alem de todo o tempo sem a vê-la, eu já estava morrendo de preocupação por causa do que havia acontecido mais cedo.
- Branca - chamei com muita preocupação na voz – você está bem¿ O que foi que o médico disse¿ Você vai poder continuar jogando¿
- Calma Claus, calma... – Ela parecia se divertir com a situação, parecia achar graça de toda a minha preocupação – Eu estou bem, não precisa se preocupar desse jeito, foi só um susto, a pancada nem foi tão forte assim, dava pra pegar mais umas dez daquelas.
- Não foi forte agora né¿ Mas na hora que você desmaiou não disse nada disso.
- Claus, - tinha alguém me chamando atrás de mim, e eu me virei pra ver quem era – você é o Claus não é¿
- Sim, sou eu, mais por que você quer falar comigo¿ Eu te conheço¿
- Eu sou do comitê organizador do campeonato, é que nós recebemos uma denuncia de que você deu um soco no rosto de outro atleta, e estamos investigando. Estão te chamando pra comparecer à nossa sala.
- Você só pode estar brincando comigo né¿ aquele menino ficou me provocando, xingando a Branca, me chamando pra briga e eu me controlando, mas ele não parava, ai quando eu dou um soco na cara dele vocês vem me penalizar, só pode estar brincando.
Eu não estava fingindo, estava com muita raiva, aquilo não podia ser sério, não podia estar acontecendo comigo, e seu eu levasse uma penalidade, se eu fosse suspenso do campeonato que eu tanto aguardava, o nervosismo parecia me corroer por dentro.
- Até o momento ninguém te penalizou ainda, só estamos te chamando para esclarecer os acontecimentos, nada mais que isso.
- Eu não tenho alternativa mesmo, fazer o que¿ - falei isso e me virei pra ver a Branca – Ta vendo, você só me mete em encrenca, a culpa disso tudo é sua – é lógico que eu estava brincando, estava me segurando pra não rir na frente dela.
- Eu! O que foi que eu fiz agora¿ você mete a mão na cara dos outros e a culpa é minha¿ - o tom de revolta em sua voz era inquestionável, então logo tratei de me explicar.
- Calma era uma brincadeira só, pra descontrair. Vem cá e me dá um beijo vem.

Cheguei perto dela e mesmo com todos aqueles problemas me senti bem, não só por estar a beijando, mas por saber que tudo que eu fiz foi pra ter ela ao meu lado, e faria tudo pra que nosso amor não se acabasse.
Quando paramos de nos beijar me virei para o membro do comitê e o acompanhei até a sala, que ficava no ginásio, em que todos estavam reunidos. Lá estavam não somente os membros do comitê como também o atleta que tinha apanhado e o técnico dele.
Logo que entrei na sala todos se viraram pra mim, e um senhor que eu achei que fosse o presidente do comitê falou.
- Seu nome é Claus, certo¿
- Sim, sou eu mesmo.
- Esse atleta aqui, da seleção do Rio Grande do Sul, está dizendo que você deu um soco nele, você nega essa acusação¿
- Não senhor, eu realmente dei um soco nele, mas...
- Somente responda o que eu perguntar. – disse ele em um tom de voz padrão, sem me parecer nervoso - O que o levou a fazer isso¿
- Ele estava me provocando, difamando minha namorada, e fazendo colocações que não me deixaram satisfeito.
- Você acha que agiu da maneira correta¿ Não podia ter comunicado a alguém do comitê¿
- Achei que vocês não fariam nada, tem assuntos mais importantes para resolver, mas realmente, não agi da maneira correta.
- Pelo que eu estou entendendo você não tem tanta culpa quanto ele nos narrou, pode ir, não acontecerá nada com você não Claus, obrigado.
- De nada senhor, qualquer coisa estamos aqui, até mais.
Eu estava me sentindo um completo idiota falando daquele jeito, mas pelo que percebi o meu jeito de falar ajudou a livrar a minha cara, graças a deus nada tinha acontecido, acho que meu técnico me mataria se algo acontecesse.



Como era incrível a ira de deus, tudo caia aos pés do poder da natureza, o que ele fez em sete dias não duraria um segundo se ele não quisesse e eu ali sentado naquela ponte imaginando se ele queria que eu vivesse. Ou será que ele estava somente me testando¿
A chuva não parava, mas isso já era de se esperar, uma chuva como essa não passa assim tão rapidamente, não em tão poucos segundos. Não tinha nem um minuto que aquela ponte aguentava o peso das minhas angustias, e no ponto que eu estava, ela teria que aguentar por muito mais tempo.
A vida não era um filme, mas o que me acontecia naquele momento era exatamente o que acontecia em vários deles, a vida passando diante dos olhos, o remorso pelo que havia feito as alegrias pelo que havia conquistado.
Levantei-me e decidi ir embora, esquecer tudo o que tinha acontecido e tentar levar uma vida normal novamente, começar do zero. Dei uns cinco passos e parei. Não conseguia me mexer, não tinha certeza do que eu queria, não tinha certeza de que recomeçar daria certo, eu já havia magoado todos que quiseram me ajudar no passado, não teria força suficiente pra voltar atrás e dizer que tudo aquilo tinha acabo, que agora eu era outra pessoa, isso era covarde de mais na minha opinião, alem do que, meu orgulho não permitia que eu dissesse que estive errado o tempo todo.
Voltei a me sentar naquele chão frio e duro, e fiquei observando a chuva cair pelo que me pareceu horas, mas na verdade não passaram segundos, fechei os olhos e...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Festa

Minha casa fica em frente a praça principal da cidade, aquele dia haveria uma festa por dois motivos. O primeiro era que minha cidade completava 100 anos de existência, e o segundo era o próprio campeonato, como era de costume, a cidade sede do evento dava uma festa pra confraternização entre as equipes.
Todas as tendas que seriam armadas para a festa já estavam montadas, e eu estava no quarto tentando fazer o meu dever, mas ver-las pela janela só me deixava mais ansioso para a hora da festa.
O tempo parecia não passar, e meus deveres continuavam intactos, foi quando a Gabbi abriu a porta e já entrou berrando.
- Mano, que historia é essa de você ter ficado com alguém? - Do jeito que ela falava parecia que ela nunca tinha me visto ficar com ninguém.
- Calma menina, qual o problema de eu ficar com alguém? Não posso não? tem que pedir permissão agora? - Disse brincando
- Muito engraçado você hein, mas não me contou por que? A cidade inteira já sabe e eu que sou sua irmã não sabia disso? - Ela tinha parado de gritar, mas ainda parecia brava comigo.
- Pra começar eu não faço ideia de como a cidade inteira sabe disso, já que eu não falei pra ninguém, na verdade eu faço ideia sim, foi o Matheus que contou, mas deixa pra lá – Comecei a explicar, como se eu precisasse disso – Segundo eu não devo satisfação da minha vida pra ninguém, ou seja, o que eu faço ou deixo de fazer é problema meu, somente meu!
- Nossa Claus, não precisava ser grosso desse jeito também não eu só queria saber. – Respondeu ela realmente chateada – Não queria ofender ninguém não, desculpa?
- Não mana, foi mal, eu exagerei um pouco mesmo, não devia ter falado com você desse jeito, mas senta ai que eu te conto tudo.
Passei alguns minutos contando a ela o que tinha acontecido, mas deixei um detalhe para o final, um detalhe que eu sabia que faria a maior diferença. Minha irmã sempre foi minha maior conselheira, e sempre ouvia os meus problemas, mas aquela situação com certeza ela não suportaria.
- E foi isso que aconteceu Gabbi, nada demais.
- Mas mano de qual seleção ela era? - Essa era a pergunta que eu menos queria que ela fizesse, sabia que a minha resposta causaria briga, mas mesmo se eu não a contasse acabaria descobrindo, e melhor pela minha boca do que pela boca dos outros.
- Mana, ela é... Ela é da seleção de Minas. – A cara que a minha irmã fez não foi das melhores, mas eu havia achado que a reação dela seria pior.
- Você ta ficando louco! Sabe que a seleção de Minas é nossa maior rival, não pode ficar com ela! Isso mesmo, não pode! – Naquele momento eu vi que estava errado, a expressão da minha irmã não podia ser pior que aquela, ela parou por alguns segundos pra pegar um ar e depois gritou com mais força ainda. – Você deve estar louco! Não pode fazer uma coisa dessas com agente, elas devem ter hipnotizado você pra nossa seleção não ganhar! Isso não vai ficar assim.
- Calma mana, ninguém fez nada comigo não, eu simplesmente me apaixonei, você nunca sentiu isso? E se você fizer qualquer coisa, pode ter certeza que eu nunca mais olho na sua cara!
- Então que não olhe, por que eu vou agora mesmo naquele hotel falar umas boas verdades na cara dessa tal de Branca, quem ela pensa que é? Ela achou que ia fazer as coisas e que tudo ficaria por isso mesmo¿ Não é assim que a banda toca não!
- Se você aparecer naquele hotel, eu não estou brincado, eu nunca mais olho na sua cara, ouviu bem! – Gritei com muita raiva daquela atitude ridícula da minha irmã.
Ela saiu do meu quarto com muita raiva, mas como o que ela sentia por mim era muito forte, não se atreveu a descer as escadas e ir ao hotel para tirar satisfação com a Branca.
Aquela tarde foi a mais demorada da minha vida, fiquei dentro do quarto ouvindo musica e olhando pro tempo, que custava em passar. A janela estava aberta e quando os últimos raios sol entraram no meu quarto eu já estava cheio de tentar imaginar como seria a festa.
A festa começava às sete e meia da noite e ia até uma hora da manhã, já que no outro dia os jogos só começavam à tarde. Minha irmã entrou no banho as sete horas da noite, e eu fiquei do lado de fora pegando minha roupa e esperando ela sair.
Nesse tempo lembrei que tinha falado pra Branca que eu ligaria para ela, e foi o que eu fiz.
- Alo! Quem é? - Perguntou a voz dela do outro lado da linha.
- Oi Branca? Sou eu Claus. – Eu nunca fui muito fã de falar no telefone, e naquela situação eu me sentia pior ainda.
- Ah, claro. Tudo bem com você¿
- Ta sim, brigado. Eu estou ligando porque tinha falado que ia ligar antes de ir pra festa, lembra?
- Lembro sim, e não precisa se explicar não. – falou ela rindo.
- Então, minha irmã, sabe, ela ta enrolando aqui no banheiro e eu não sei se vou conseguir chegar lá as sete e meia em ponto não, mas se você puder me esperar....
- Ah claro, eu espero sim, só que eu vou ter que ir agora, porque o técnico tá chamando agente, beijo!
- Beijo, vai lá!
No exato momento que eu desliguei o telefone minha irmã saiu do banheiro, olhei pro relógio e percebi que teria que correr se quisesse chegar lá na hora, já eram sete e quinze e eu não havia nem entrado no banho.
Minha opinião estava dividida naquele momento, eu não sabia se tomava um banho rápido para chegar à festa a no horário, ou se eu demorava um pouco mais e ficava bonito para a Branca. Acabei decidindo pela segunda alternativa.
Quando sai do banho minha irmã já tinha ido pra festa, e minha mãe gritava lá da cozinha.
- Menino corre, desse jeito a festa acaba antes de você chegar!
- Já to indo mãe, só falta botar a roupa!
Arrumei-me o mais rápido que eu pude, botei minha roupa mais bonita e meu melhor tênis, passei o meu melhor perfume, e desci pra comer.
- Sua irmã já saiu faz uns vinte minutos filho, assim você nem vai curtir a festa, anda logo! – Não sei porque mais minha mãe conseguia me passar um ar de que estava mais apreensiva do que eu, será que era possível?
- Calma mãe, são só cinco para as oito, eu não perdi nem meia hora de festa. – Falei rindo da cara dela.
Quando o ponteiro do relógio marcou oito horas eu já tinha acabado tudo que eu tinha pra fazer e estava pronto pra ir para a festa.
Sai de casa com muita vontade de chegar logo na praça, mas aquilo era ridículo, a minha ansiedade não tinha motivo, a praça ficava a dez metros da minha casa.
Quando eu cheguei à praça, todas as tendas estavam lotadas, muita azaração e é claro muita gente que eu nunca tinha visto na vida. Procurei por uns dez minutos pela Branca, e não conseguia achá-la de forma alguma, e aquilo só fazia meu nervosismo aumentar.
Rodeio pelas tendas por mais alguns minutos, ficando cada vez mais nervoso, quando já estava achando que ela já tinha ido embora vi ela sentada em um banco do lado do DJ conversando com um menino.
O menino estava com as mãos no cabelo dela e pelo que me pareceu queria ir muito alem daquela mão no cabelo, fiquei olhando aquela cena por algum tempo, tomei coragem e fui lá falar com ela.
- To atrapalhando alguma coisa¿ - Perguntei com a maior ironia do mundo.
- Ah, Oi Claus, que bom que você chegou esse aqui é o Deco. – Disse ela me parecendo muito ingênua.
- Oi prazer, Deco, Deco Vern, como a Branca já disse, mas pode me chamar de Vern se preferir.
- Beleza, Claus, pode me chamar de Claus mesmo. – Falei nada contente com a situação. – Estavam conversando sobre o que?
- Ah bobagens lá da nossa cidade.
- Ele mora na mesma cidade que você?- Perguntei morrendo de ciúmes.
- Sim, ele é meu vizinho a mais de sete anos já!
- Hum, que bom que você conhece alguém que esta aqui pelo menos, né?
- É bom mesmo, o Vern é muito meu amigo, conheço ele desde que eu me entendo por gente. – Ela disse rindo – E pode agradecer a ele, esse garoto aqui, - Disse ela abraçando ele – que me incentivou a começar no vôlei.
- Gente eu vou ali conversar com os meninos, - Disse ele fugindo do assunto – eu acho que eu estou meio que sobrando aqui.
- Ta bom, tchau Venr. – Disse ela beijando o rosto dele.
A medida que ele se distanciava de onde nós estávamos eu começava a sentir menos raiva dele. Quando ele chegou ao meio da tenda eu me sentei ao lado da Branca e nós começamos a conversar.
- Você ficou com ciúmes dele não foi¿ - Perguntou agarrando o meu braço.
- Eu? - Finge que não era comigo – Lógico que não, ele é só seu amigo pelo que eu percebi, e também agente se conheceu hoje, não sou seu namorado, seu dono, nem você é de mim.
- Eu te conheci hoje e to conseguindo perceber muito bem que você ta mentindo pra mim, eu sei que você não gostou de me ver com ele, mas fica despreocupado, Claus, eu não tenho nada com ele – A voz dela me passava confiança, e mesmo que fosse a maior mentira do mundo eu não conseguiria ser contrario a ela.
- Se você ta falando, quem sou eu para duvidar de você? - Falei rindo – Mas vamos parar de falar dele e falar de nós? Eu acho que é mais interessante.
-Também acho. – disse ela me puxando pra perto do próprio corpo, e beijando os meus lábios.
Se aquela festa não foi a melhor da minha vida, foi uma das. Fiquei sentado naquele banco boa parte da festa, e como toda a cidade me conhecia fui fuzilado por vários olhares assustados.

No meio da festa quando meus lábios já estavam inchados de tanto beijá-la, fomos para o meio da tenda e ficamos dançando junto com a Helen o Deco e um grupo de amigas da Branca. Olhando ao meu redor pude perceber que minha irmã estava a um canto, olhando pra mim e com uma expressão nem um pouco satisfeita.
A musica foi ficando mais lenta, e em um momento só os casais ficaram na pista, eu abracei a Branca e beijei ela com todo o amor que eu tinha para dar, não foi um beijo qualquer, foi O Beijo, ficamos quase dez minutos sem se desgrudar, os melhores dez minutos da minha vida.
O som foi diminuindo e musica acabou, eu e a Branca saímos da pista de dança, não sei se era só impressão, mas a Gabbi não tava muito contente, e parecia que estava me seguindo.
Fui ao banheiro e deixei a Branca a minha espera, quando voltei ela na estava mais lá, e no lugar onde estávamos antes, agora estava minha irmã, e isso não me parecia um bom sinal.
- Gabbi cadê a Branca?
- Se você não sabe onde está sua namoradinha eu tenho que saber? Tenho cara de vigia agora¿ - Disse ela em tom irônico.
- Claus! – Chamou alguém atrás de mim, eu me virei e vi a Helen me chamando na entrada da tenda.
Deixei minha irmã falando sozinha e fui até ela na esperança de que ela soubesse onde a Branca estava. Minha irmã que já não estava muito contente comigo, não melhorou muito de humor depois de eu a deixar falando sozinha.
- Helen você viu a Branca?
- A ultima vez que eu vi ela, ela estava indo ali para trás dos banheiros químicos, às vezes ela ainda está lá.
- Valeu, eu vou lá ver. – Virei as costas e fui ao encontro dela.
Lá encontrei a Branca falando com o Vern ao lado de um dos banheiros. Ele como sempre me pareceu que estava dando em cima dela, mas me segurei pois já tinha dado minha crise de ciúmes do dia.
- Oi gente, você sumiu Branca por que saiu de lá?
- É que me deu vontade de ir atrás de você, mas quando cheguei aqui não te encontrei, e o Deco tava falando que tinha te visto indo pra lá.
- Entendi, mas vamos voltar pra festa? - Peguei na mão dela puxando ela em direção da tenda. – Até mais Vern. – Disse isso e dei um beijo nela.
A festa durou a noite toda e entrou um pouco na madrugada, quando estava dando uma hora da manhã, os técnicos começar a pedir aos seus atletas que fossem para os quartos.
- Branca amanha você namora mais com o Claus ai, vamos pra cama ta bom?! – Disse ele brincando com agente.
- Vai lá amor, eu quero te ver jogar bem amanhã, vou ta lá na hora do jogo. Boa noite. – Disse isso e dei um selinho nela, pois todos estavam olhando.
- Vocês estão brincando comigo não é? Só vão dar esse beijinho ai, nada disso, volta aqui e beija ela que nem homem Claus! – Disse a Helen sempre mandona e com aquele poder de me constranger que ela tinha.
- Vou fazer isso mas é só porque você está mandando. – Disso entre risos.
Dei meu beijo de despedida na boca da Branca e fiquei olhando ela indo para o Hotel junto com as amigas dela.
Quando ela sumiu do meu campo de visão eu fui atrás da minha irmã, já estava tarde e agente tinha que ir embora.
-Gabbi vamos embora. A mãe mandou agente não chagar muito tarde em casa.
-Agora você lembra que tem família né¿ Lembra do que a mãe disse. – Ela estava realmente muito estressada comigo, nunca tinha visto tanta raiva na voz dela.
- Agora da pra parar de dar o seu showzinho e vir embora comigo? - Perguntei começando a ficar com raiva dela.
- Na verdade dá sim, mas eu não estou com vontade não. Vou ficar mais um pouco aqui com as minhas amigas.
- Gabbi agente já ta indo embora também. – Disse uma das amigas da minha irmã, a Thalyta.
- Então eu vou embora com você Claus, mas não porque você está me chamando...
Eu me segurei muito pra não brigar com a minha irmã no caminho para casa, apesar de ser perto. Ela fez de tudo para me estressar, tudo que ela sabia que eu não gostava, ela fez, e aquilo já estava me enchendo à paciência.
Aquela noite foi a noite em que eu tive os melhores sonhos, vários deles, e dormi muito bem.



A ponte em que eu estava agora foi a primeira parte da cidade dela que eu tinha visto, e provavelmente seria a ultima paisagem que eu veria em toda minha vida.
Mesmo com todo o medo que eu estava sentindo tomei coragem me afundando nas minhas magoas para colocar o pé na mureta da ponte.
Não tive coragem, tirei o pé da mureta e me afastei pensando no que eu quase tinha feito. Encostei na grade que dividia a passarela para pedestres da parte da ponte destinada para os carros e sentei chorando.
Será que aquilo era o certo a se fazer? será que eu não estava errado na minha decisão? Eu poderia mesmo abandonar todos que me amavam para parar de sofrer?
As respostas para aquelas perguntas não estavam na minha mente, se estavam eu não fazia ideia de onde. Mas não podia demorar muito para encontrar, aquelas respostas mudariam a minha vida, e provavelmente a de muitas outras pessoas.

sábado, 3 de julho de 2010

4 de Julho

Tão alto...
Pra quem tem medo de altura um metro já é o suficiente para que tudo comece a sair de foco, imagine como eu não estava me sentindo naquele momento, do alto daquela ponte.
Lá embaixo o rio corria rapidamente, uma forte chuva não parava de cair a mais de três dias, e a correnteza ficava mais forte a cada minuto, uma queda, sem a menor duvida, me levaria a morte, se não pela queda,morreria pela força da correnteza que me manteria em baixo d’água até o meu ultimo suspiro.
Tudo passava na minha cabeça naquele momento. Minha vida antes dela, minha vida depois dela, o que aconteceria dali em diante¿ Não fazia ideia...
Olhei para os lados, a ponte parecia deserta, apesar de a chuva atrapalhar um pouco a visão, não tinha nenhum sinal de movimento. Nenhum carro, nenhuma pessoa, animal ou o que fosse. Acho eu, que aquele momento eu deveria passar sozinho... Ouvi um barulho perto de mim, era meu relógio, marcava 22:00 horas do dia 4 de julho de 2010.
Essa data me trazia muitas lembranças...


Aquela era a oportunidade da minha vida, um campeonato brasileiro de vôlei na minha cidade, eu era da seleção pernambucana, caso eu jogasse bem poderia ir jogar em um estado que tivesse mais força no vôlei nacional.
Uma semana antes não se falava de outra coisa na minha cidade, todo mundo estava interessado no campeonato, lá em casa então... Minha irmã e meu irmão também jogavam vôlei, a Gabbi minha irmã gêmea era a libero da seleção feminina e assim como eu estava muito entusiasmada. CH meu irmão mais novo também jogava vôlei, mas como tinha apenas 13 anos não participava de seleção nenhuma ainda, mas acompanhava de perto a minha rotina de treinos, jogos, treinos e muito mais treinos.
A ideia de ganhar um campeonato brasileiro era só o que passava pela nossa cabeça, nada mais importava. De dia na aula o assunto entre eu e a Gabbi era somente esse, de tarde, depois do almoço, nós tínhamos que ir para o clube, onde estava sendo a concentração da seleção, para treinar, e a noite agente também treinava.
O tempo foi passando o campeonato foi ficando cada dia mais perto, e o nervosismo foi aumentando cada vez mais. Dois dias antes do campeonato todas as seleções já haviam chegado a minha cidade.
Foi no dia 4 de julho de 2009 que aconteceu... Era o dia da abertura do campeonato, e eu tive o meu ultimo treino antes do primeiro jogo, um treino de reconhecimento, apesar de treinar naquele ginásio a mais de seis anos, todas as seleções tinham direito a um treino
Quando eu estava saindo do treino para ir pra casa, esbarrei numa menina. Aliais menina não, Deusa. Ela era linda, meu mundo parou, não sei o que aconteceu, aqueles cabelos loiros, aqueles olhos de mel, e aquele sorriso, me tiraram do mundo, me hipnotizaram.
- Desculpa - foi a única coisa que eu consegui falar,
- Não tem problema não – disse ela e continuou andando como se nada tivesse acontecido.
A voz dela era a coisa mais linda do mundo, fez meu coração bater mais forte, minhas pernas tremerem. Eu me virei pra ver ela indo treinar, deixei pra lá tudo que eu tinha pra fazer, não tinha como não parar pra ver ela treinando, será que ninguém estava percebendo¿ Uma mulher daquelas andando por ali e ninguém aparecia pra olhar¿
Eu parei minha vida por uma hora, fiquei no ginásio, olhando o treino. Que seleção era aquela mesmo¿ Estava tão obcecado pela menina que eu nem me dei conta de que seleção estava treinando. Depois de um tempo percebi que a seleção era de minas, e isso não ajudava muito, já que Pernambuco e Minas tinham se tornado a maior rivalidade dos últimos anos.
Fiquei lá sentado pelo que me pareceram poucos minutos, e é claro que todas as meninas do time repararam na minha presença, e principalmente, o porquê dela. Eu não tirava o olho da mineira que tinha roubado meu coração, e ela ficava cada vez mais envergonhada.
Levei um susto quando alguém me cutucou, e disse:
- Ei garoto, ta fazendo o que aqui¿ - Era o técnico do time – Você ta atrapalhando o meu treino, se você quer conhecer as meninas elas vão sair hoje à noite, mas se puder nos dar licença pra treinar eu agradeceria.
- Não, não é isso não. – Eu disse muito envergonhado – Eu queria era ver o treino mesmo.
- Você acha que eu sou bobo moleque, você não tirou o olho da branca! – Falou o técnico rindo – Eu já tive a sua idade menino, sei como é, ela é bonita mesmo, e como eu fui com a sua cara, vou deixar elas saírem as 18 horas, se você for esperto aparece lá...
- Ta bom, obrigado. – Disse meio sem jeito – Mas posso continuar vendo o treino¿
- Eu acho melhor você ir embora, ta me atrapalhando um pouco – Pediu ele.
- Pode deixar, vou aparecer lá na praça mais tarde. Com certeza. – Disse isso e fui saindo do ginásio.
As palavras do técnico me deixaram com um pouco de vergonha, mas ao mesmo tempo elas me alegraram muito. Será que eu teria alguma chance com aquela menina, que aliais eu havia acabo de descobrir o nome, Branca.
- Ei! Garoto! – Gritou o técnico lá de longe – Qual seu nome¿
- Por que¿ - perguntei estranhando.
- A Branca perguntou. – explicou-se o técnico.
- Claus. – Respondi ainda sem acreditar. – Mas agora tenho que ir. Tchau! – Virei as costas e fui andando, mil coisas passaram na minha cabeça, desde o que eu falaria com ela, até “será que é um sonho”¿
Nunca, nem mesmo no momento em que eu me sentei na arquibancada daquele ginásio, eu imaginei que aquela menina fosse olhar pra mim, e agora ela havia perguntado até meu nome.


Como era estranha toda aquela situação, um filme havia passado na minha mente, e eu havia me lembrado dos mínimos detalhes, coisas que no momento eu tinha percebido. Foi como se eu estivesse sentado no cinema e visse um filme, um filme produzido, atuado, e principalmente dirigido por mim, um filme da vida real.
Ali de cima da ponte eu na fazia ideia de quanto tempo havia se passado. Olhei no relógio, levei um susto, não havia se passado sequer um minuto, ele marcava pouco mais do que 22:00 horas, poucos segundos, era impressionante como uma das melhores partes da minha vida tinha passado diante dos meus olhos em menos de 5 segundos.
A chuva não parava de cair, e disfarçava as lagrimas que rolavam no meu rosto e se uniam ao rio lá em baixo. Chuva, eu sempre gostei de dias chuvosos será que minha morte aconteceria justamente em um dia como aquele, pensava que a chuva lavava a alma, era o sinal do perdão de deus, não havia dia melhor pra morrer, meu corpo nunca seria achado naquele rio, meus parentes não sofreriam em meu enterro, e ninguém mais sentiria minha falta.
Um pingo d’água caiu no meu olho e eu o fechei...


Era a hora da abertura, todas as equipes estavam no ginásio, estava lotado, a cidade tinha parado pra ver os jogos de abertura, e é claro que Pernambuco tinha que jogar. Na hora da abertura, as seleções de Pernambuco e Minas ficaram lado a lado, e eu estava adorando aquilo, a Branca estava poucos metros a minha frente e eu não conseguia tirar o olho dela, se aquilo era amor, paixão, feitiço, desejo, eu não fazia a menor ideia, só sei que nada parecido havia me acontecido antes.
No fim da abertura começou o jogo entre as seleções de Pernambuco e Rio de Janeiro, eu jogava de saída de rede e estava muito ansioso, era o meu primeiro jogo pela seleção de Pernambuco em um campeonato brasileiro, e toda minha cidade estava ali naquele ginásio, e a minha mãe não parava de gritar, e aquilo não me ajudava muito.
Minha mãe sempre foi muito legal comigo e com meus irmãos, ela amava agente de verdade, mas a dona Denise era a pessoa mais escandalosa do mundo, não sei como ela conseguia, se tivesse uma caixa de som no ginásio, ela conseguiria falar mais alto que a caixa, mas mesmo assim eu amava ela, ela era minha mãe, não importava como ela era, só importava que ela nunca me abandonaria.
O jogo começou e ocorreu tudo como planejado, apesar da seleção do Rio ser muito boa, não tinha chance de ganhar do nosso time, foi um bom jogo mas sem muita pressão, ganhamos de três sets a zero, mas todos placares muito apertados. No fim dos jogos eu e meus companheiros de equipe fomos cumprimentar a torcida que por sinal era uma ótima torcida, muita mulher bonita e que sabia torcer, mas só uma me chama atenção.
Branca, esse nome não saia da minha mente, era como um bloco de granito destruindo todas minhas emoções, não me deixava pensar em outra coisa. Lá estava ela, lá no cantinho, com três meninas, mas eu não sabia o que fazer pra falar com ela, e agora eu também não podia, tinha que terminar de agradecer à torcida que tanto me ajudará.
Quando todos já estavam quase fora do ginásio ela desceu os degraus da arquibancada me encarando no olho, que olho lindo, podia passar o dia todo olhando que eu não sentiria a menor vontade de me mexer, ela estava indo e eu não conseguia me mexer pra falar com ela, foi quando uma das amigas dela me chamou.
- Claus ! – gritou ela fazendo sinal pra eu ir até onde elas estavam – Vem pra cá!
Minhas pernas tremeram, meu coração parou, mas eu não podia deixar aquela oportunidade passar, talvez eu nunca mais fosse vê-la. Fazendo muita força consegui me mexer e caminhei em direção a elas. Elas estavam dando risadinhas, e a Branca estava muito constrangida, e vermelha.
- Oi, você me chamou¿ - Perguntei como se não estivesse entendendo a situação.
- Você quer mais o que hein menino! Eu já te chamei aqui. Quer que eu faça você falar com ela também¿ - Ela parecia ser meio estressada, mas talvez fosse só a minha falta de atitude que tivesse deixando ela daquele jeito.
- Oi, er.... Branca, esse é seu nome não é¿ - perguntei sem saber o que dizer.
- É esse sim, e o seu é Claus, eu já sei! – disse ela que parecia estar muito envergonhada.
- Vocês jogam quando¿ - Falei tentando puxar assunto, mas é claro que uma pergunta imbecil como aquela não me levaria a Lugar nenhum.
- Nosso primeiro jogo é amanhã, às três horas. – Ela me pareceu mais calma à medida que a nossa conversa evoluiu, esse era um dom que eu tinha, conseguia perceber muitos sentimentos de outras pessoas.
Conversamos durante alguns minutos, mas o nosso relacionamento não evoluía. Eu era muito tímido pra essas coisas, e ela... Também me parecia ser. O tempo continuou passando e a Helen, aquela amiga estressada da Branca, não tinha melhorado muito de humor, ela só falatava me mandar beijar a Branca de uma vez.
- Sua amiga ta meio nervosa né!¿ - eu disse meio sem saber o que fazer.
- Ela é gente boa, é que ela achou que... a deixa pra lá. – Falou a Branca com vergonha de terminar a frase.
- Ela achou que eu já chegaria te beijando, não é¿! – Completei a frase que ela não teve coragem de dizer.
- Eu acho que sim...
-E você, gostaria que eu fizesse isso¿ - perguntei achando a brecha que eu queria.
- Não posso dizer que ia achar ruim, mas se você não quer... – Disse ela sem jeito.
- E quem foi que te disse que eu não quero...
Foi a melhor sensação da minha vida, nada de sinos tocando, ou aquela sensação de voar, simplesmente me senti beijando ela, e isso já era a melhor coisa do mundo pra mim, o gosto de morango que a boca dela tinha me fez muito bem, não queria que aquele momento parasse nunca.
- Pegador!!! – Sempre tem aquele que vem pra atrapalhar, e comigo não seria diferente, gritando atrás de mim vinha o sonso do meu amigo Matheus, na verdade ele não era sonso, mas naquele momento a maior vontade da minha vida foi da um soco na cara dele com toda força do mundo.
Com aquele imbecil gritando no meu ouvido não tinha jeito, a Branca não ia se sentir a vontade, e muito menos eu, ela se despediu de mim, chamou a Helen e foi embora, só consegui pegar o celular dela, e prometi ligar mais tarde.
- Qual o seu problema hein¿! – Empurrei o Matheus com toda minha força – Não viu que tava atrapalhando não é¿ Eu fico um tempão conversando com a menina e você estraga tudo em menos de dez segundos, da próxima vez vê se pensa antes de fazer alguma coisa!
Sai andando sem nem ouvir as desculpas que ele tinha pra me dar. Ainda sentia aquele gostou na boca, morango, mas não um morango qualquer, era o morango que eu nunca esqueceria que eu queria mais e mais.
Fui pra casa querendo que o dia passasse logo e chegasse de noite pra eu poder sair, mas nada é tão fácil assim, e a minha vontade é claro, também não foi aceita pelo tempo.


Um trovão me despertou do meu transe, o céu ficou claro, a noite virou dia e eu vi perfeitamente o contorno das montanhas atrás do rio. A chuva ainda caia e aumentava cada vez mais, nada que me preocupasse muito.
De novo olhei no relógio e novamente me vi assustado, o tempo realmente não passava, o melhor momento da minha vida Havia acontecido em cinco segundos, como aquilo era possível. Não fazia ideia de como explicar, mas aquelas lembranças não me faziam tão mal como eu achei que fossem fazer, eu evitava elas a algum tempo, mas naquele momento elas tiravam da minhas costas um peso que eu sentia a um bom tempo.