sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tudo por amor.

Como sempre acontece em campeonatos brasileiros de vôlei, o dia foi muito movimentado, com muitos jogos, brigas entre torcidas, entrevistas, etc.
Naquele dia, eu não teria jogo, já que minha chave tinha feito os primeiros jogos da abertura, mas ela tinha, e eu estava louco pra vê-la jogar. Quando deu o horário do jogo, eu fui ao ginásio, e me sentei bem lá no alto, para que ela não pudesse me ver, e assim manter a concentração.
Aquele não seria um jogo muito difícil pra seleção mineira, era contra a seleção do Pará, que não tinha a menor tradição no vôlei, mas eu queria ver, não podia faltar a um jogo desses, o jogo da mulher que eu amava.
O jogo começou fácil, com muitos erros da equipe do Pará, como já era de se esperar, e logo já estava de dois sets a zero, com a seleção mineira dando um show.
O jogo já estava se tornando desinteressante e eu nem estava olhando pra quadra, até o momento em que uma das amigas da Branca acertou um ataque no meio do rosto da levantadora adversária. Isso não foi o melhor que podia ter acontecido, e fez a seleção paraense crescer no jogo.
No ponto seguinte a Branca foi para o saque, um bom saque, mas não o suficiente pra quebrar o passe do time paraense, a levantadora colocou a melhor bola do jogo para a melhor atacante da seleção, e ela virou a bola com muita força, na direção da Branca. Aquilo me deixou com muita raiva, a bola bateu no peito dela e subiu, mas ninguém foi atrás da bola, e meu coração pareceu parar por um momento.
Banca estava caída no chão desacordada, “o que estaria acontecendo” de onde eu estava não tinha uma boa visão, e aquele monte de gente em volta dela não melhorava muito as coisas.
- Helen! Helen! – gritei o mais alto que eu pude.
Ela se virou e pediu para eu esperar um pouco, mas tudo que eu menos queria naquele momento era esperar, queria saber como ela estava, o que estava acontecendo. Eu já estava a mil, quando ouvi aquele comentário.
- Se ela precisar, eu faço um boca a boca nela! – era um moleque, que provavelmente era de alguma seleção, pois eu nunca o tinha visto na cidade.
- Você ta ficando doido, quer briga comigo é¿ - perguntei a ele doido pra descarregar minha raiva em um soco.
- Realmente faria uma grande diferença querer brigar com você. Você não protege nem a sua mulher de uma bola, quem dirá se proteger de mim. – o tom de ironia na voz dele me deixou extremamente enraivecido.
Fechei o punho me controlando pra não virar a mão naquela cara de safado que ele tinha, virei às costas contando até dez, mas ele realmente estava afim de brigar.
- O gostosa, já que seu namoradinho aqui não consegue te manter acordada, deixa que eu mesmo faço isso!
Quando percebi o que eu tinha feito tudo já havia acontecido, e ele estava caído no chão, com o nariz sangrando e alguns amigos, preocupados, o ajudando.
- Ei você, - falei olhando pra um dos amigos dele – faz um boca a boca nele ai agora, senão eu acho que ele não levanta mais não, e se você não souber acho que ele ficará muito feliz em te ensinar. – Disse isso com todo o sarcasmo do mundo na voz, e voltei pro alambrado pra ver como ela estava.
Fiquei ali esperando por algum tempo, e nada de alguém me dizer o que estava acontecendo, então tomei uma decisão, fui até a cabine do comitê organizador e pedi a eles que me deixassem entrar para ver o que estava havendo, pois ela era minha “namorada” e eu achava que tinha esse direito.
É, eles não me deixaram entrar, mas pelo menos eu consegui saber que estava tudo bem com ela e que ela já não estava mais desacordada, mas teria que ser levada ao hospital para ver se realmente estava tudo bem.
O jogo continuou e eu fui seguindo a ambulância, não demorou muito tempo, e o Dr. Friz deu alta a Branca, logo que ela saiu, eu fui falar com ela, não estava mais me agüentando de ansiedade, alem de todo o tempo sem a vê-la, eu já estava morrendo de preocupação por causa do que havia acontecido mais cedo.
- Branca - chamei com muita preocupação na voz – você está bem¿ O que foi que o médico disse¿ Você vai poder continuar jogando¿
- Calma Claus, calma... – Ela parecia se divertir com a situação, parecia achar graça de toda a minha preocupação – Eu estou bem, não precisa se preocupar desse jeito, foi só um susto, a pancada nem foi tão forte assim, dava pra pegar mais umas dez daquelas.
- Não foi forte agora né¿ Mas na hora que você desmaiou não disse nada disso.
- Claus, - tinha alguém me chamando atrás de mim, e eu me virei pra ver quem era – você é o Claus não é¿
- Sim, sou eu, mais por que você quer falar comigo¿ Eu te conheço¿
- Eu sou do comitê organizador do campeonato, é que nós recebemos uma denuncia de que você deu um soco no rosto de outro atleta, e estamos investigando. Estão te chamando pra comparecer à nossa sala.
- Você só pode estar brincando comigo né¿ aquele menino ficou me provocando, xingando a Branca, me chamando pra briga e eu me controlando, mas ele não parava, ai quando eu dou um soco na cara dele vocês vem me penalizar, só pode estar brincando.
Eu não estava fingindo, estava com muita raiva, aquilo não podia ser sério, não podia estar acontecendo comigo, e seu eu levasse uma penalidade, se eu fosse suspenso do campeonato que eu tanto aguardava, o nervosismo parecia me corroer por dentro.
- Até o momento ninguém te penalizou ainda, só estamos te chamando para esclarecer os acontecimentos, nada mais que isso.
- Eu não tenho alternativa mesmo, fazer o que¿ - falei isso e me virei pra ver a Branca – Ta vendo, você só me mete em encrenca, a culpa disso tudo é sua – é lógico que eu estava brincando, estava me segurando pra não rir na frente dela.
- Eu! O que foi que eu fiz agora¿ você mete a mão na cara dos outros e a culpa é minha¿ - o tom de revolta em sua voz era inquestionável, então logo tratei de me explicar.
- Calma era uma brincadeira só, pra descontrair. Vem cá e me dá um beijo vem.

Cheguei perto dela e mesmo com todos aqueles problemas me senti bem, não só por estar a beijando, mas por saber que tudo que eu fiz foi pra ter ela ao meu lado, e faria tudo pra que nosso amor não se acabasse.
Quando paramos de nos beijar me virei para o membro do comitê e o acompanhei até a sala, que ficava no ginásio, em que todos estavam reunidos. Lá estavam não somente os membros do comitê como também o atleta que tinha apanhado e o técnico dele.
Logo que entrei na sala todos se viraram pra mim, e um senhor que eu achei que fosse o presidente do comitê falou.
- Seu nome é Claus, certo¿
- Sim, sou eu mesmo.
- Esse atleta aqui, da seleção do Rio Grande do Sul, está dizendo que você deu um soco nele, você nega essa acusação¿
- Não senhor, eu realmente dei um soco nele, mas...
- Somente responda o que eu perguntar. – disse ele em um tom de voz padrão, sem me parecer nervoso - O que o levou a fazer isso¿
- Ele estava me provocando, difamando minha namorada, e fazendo colocações que não me deixaram satisfeito.
- Você acha que agiu da maneira correta¿ Não podia ter comunicado a alguém do comitê¿
- Achei que vocês não fariam nada, tem assuntos mais importantes para resolver, mas realmente, não agi da maneira correta.
- Pelo que eu estou entendendo você não tem tanta culpa quanto ele nos narrou, pode ir, não acontecerá nada com você não Claus, obrigado.
- De nada senhor, qualquer coisa estamos aqui, até mais.
Eu estava me sentindo um completo idiota falando daquele jeito, mas pelo que percebi o meu jeito de falar ajudou a livrar a minha cara, graças a deus nada tinha acontecido, acho que meu técnico me mataria se algo acontecesse.



Como era incrível a ira de deus, tudo caia aos pés do poder da natureza, o que ele fez em sete dias não duraria um segundo se ele não quisesse e eu ali sentado naquela ponte imaginando se ele queria que eu vivesse. Ou será que ele estava somente me testando¿
A chuva não parava, mas isso já era de se esperar, uma chuva como essa não passa assim tão rapidamente, não em tão poucos segundos. Não tinha nem um minuto que aquela ponte aguentava o peso das minhas angustias, e no ponto que eu estava, ela teria que aguentar por muito mais tempo.
A vida não era um filme, mas o que me acontecia naquele momento era exatamente o que acontecia em vários deles, a vida passando diante dos olhos, o remorso pelo que havia feito as alegrias pelo que havia conquistado.
Levantei-me e decidi ir embora, esquecer tudo o que tinha acontecido e tentar levar uma vida normal novamente, começar do zero. Dei uns cinco passos e parei. Não conseguia me mexer, não tinha certeza do que eu queria, não tinha certeza de que recomeçar daria certo, eu já havia magoado todos que quiseram me ajudar no passado, não teria força suficiente pra voltar atrás e dizer que tudo aquilo tinha acabo, que agora eu era outra pessoa, isso era covarde de mais na minha opinião, alem do que, meu orgulho não permitia que eu dissesse que estive errado o tempo todo.
Voltei a me sentar naquele chão frio e duro, e fiquei observando a chuva cair pelo que me pareceu horas, mas na verdade não passaram segundos, fechei os olhos e...

2 comentários:

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