domingo, 20 de fevereiro de 2011

Proposta

Ver a chuva parando, as nuvens começando a se dissipar e o dia voltando a clarear no momento em que eu relembrava a minha despedida com a Branca, era realmente bem irônico, ma também muito adequado.

O irônico era que eu estava sofrendo mais do que nunca, e o céu parecia tentar sorrir para mim, mas de certa forma o tempo parecia voltar ao normal, assim como eu que voltava a minha pacata vida naquela cidade do interior pernambucano, sem o campeonato, sem a seleção e, principalmente, sem a Branca.

Depois de algum tempo e muitas voltas, sem fazer nada na praça, eu já não aguentava mais ficar sem comer e resolvi chamar a Gabbi pra atrapalhar o romance dos dois e ir logo pra pizzaria, até porque eles ainda teriam muito tempo pra fazer o que queriam.

- Cof-Cof! – forcei a garganta, repetindo o gesto que a Helen tinha feito mais cedo - Já tem meia hora que vocês estão ai, eu já to morrendo de fome, vamos pra pizzaria logo?

- Você é muito engraçado sabia? – disse o CH parando de beijar. – Passa a noite fora de casa e ninguém vai te chamar pra ir à pizzaria, agora eu não posso ficar meia hora aqui?

- Para de pirraça e vem logo que eu to mandando. – disse rindo – Mas é serio moleque, você vai ter todo tempo do mundo, e eu não tive...

- Deixa pra lá Rick, vamos logo... Depois a gente continua. – Disse ela mordendo o lábio do meu irmão.

- Rick? – eu e a Gabbi perguntamos ao mesmo tempo.

- O nome dele não é Carlo Henrique? – nós concordamos – Então, Rick é a diminuição de Henrique ué! Um apelido carinhoso, ou eu também não posso?

- Ei, calma Aline a gente só pergunto por que ninguém nunca o chamou assim. Mas vamos logo pra pizzaria senão eu morro de fome. – disse a gabbi.

- Posso cantar gente? – perguntou a Gabbi.

- E desde quando você pergunta o que pode e o que não pode fazer? – disse o CH.

- Num pense você que pode dizer o que quiser só porque a Aline ta aqui não tá, eu ainda te dou um tapas! – disse ela rindo.

- Vamos acalmar os ânimos né?! E começa a cantar logo Gabbi!

- Pode deixar... – disse ela começando a cantar o refrão de “verbo amar” uma música que eu tinha feito com ela.

Aquela noite teria sido muito boa se a Branca estivesse lá conosco, eu sabia que não era bom pra mim ficar pensando nela o tempo todo, mas o que eu podia fazer, eu estava enfeitiçado por ela, muito mais do que eu já tinha estado por qualquer mulher, e quanto mais tempo eu passava longe dela mais aumentava o que eu sentia.

A pizzaria não costumava ficar lotada na minha cidade, e realmente não estava, era um lugar muito agradável, algumas cadeiras na calçada, uma musica ambiente muito boa, um lugar perfeito pra se namorar, e parecia que o CH e a Aline estavam aproveitando muito bem aquilo tudo, a noite estava melhor pra eles do que pra mim.

Quando voltamos pra casa naquela noite ele não parava de falar na Aline e aquilo era com certeza uma atitude de alguém que estava apaixonado, como eu sabia? Bem, eu já tinha passado por aquilo.

Alguns meses se passaram e meu contato com a branca foi diminuindo cada vez mais. Nós estávamos falando uma vez ou outra no MSN, mas sempre que nos víamos era do mesmo jeito, nossas vidas não tinham parado, mas com certeza o meu sentimento tinha, e tinha parado em uma cidade de Minas Gerais.

Eu não tinha deixado de sair com meus amigos, e acho que muito menos ela, mas não era a mesma coisa de antes, não para mim. Tinha ficado com uma menina depois de dois meses que o campeonato brasileiro tinha acabado mas não tinha sentido nada, era completamente diferente ficar com ela e ficar com outra pessoa, a graça de beijar, conversar, e até mesmo de olhar não era a mesma. Ao menos minhas aulas estavam a todo vapor, e as provas me cobravam cada vez mais, o que me fazia esquecer um pouco dela, mas não o suficiente.

No dia em que fez três meses do fim do campeonato brasileiro de vôlei infanto-juvenil o telefone da minha casa tocou, e quem atendeu foi a minha mãe. Ela me chamou com um grito dizendo que o telefonema era pra mim.

- Alô! – disse atendendo o telefone que ficava no meu quarto.

- Claus? É você?

- Sim, sou eu mesmo, com quem estou falando?

- Meu nome é Ailton e eu tenho um proposta pra te fazer.

- Que tipo de proposta?

- Bom, eu sou técnico de um time de vôlei, e vi dois de seus jogos pela seleção de Pernambuco. Sinceramente, achei seu estilo de jogo muito bom, e estou interessado em ter você no meu time, porem os nossos diretores não são a favor de um atleta entrar sem passar por uma seleção, então tive que esperar a primeira peneira pra te chamar, ela acontece na semana que vem e eu gostaria de saber se você esta a fim de vir, eu mesmo estou disposto a pagar a sua passagem.

- Eu não sei se o senhor sabe, mas eu sou menor de idade, portanto tenho que ver isso com a minha mãe, e convencer ela a me deixar ir.

- Eu sei sim, mas não me chame de senhor, não sou tão velho assim, na verdade tenho só 25 anos.

- A me desculpe, mas você é técnico de qual time? E quando é que eu irei viajar? Só pra dar uma referência a minha mãe.

- A sim, como pude me esquecer isso, a sua viaja esta prevista pra sexta feira que vem, e meu time... Acho que você deve conhecer, sou técnico do Minas Tênis Clube.

- Isso é uma piada? Por que se for é muito sem graça, eu não tenho prova nenhuma de que você é mesmo do clube, como posso ter certeza?

- Olha, você pode entrar no site do Minas Tênis pegar o telefone e ligar para cá pedindo informações, acho que é o máximo que eu posso fazer.

- Acho que vou fazer isso mesmo, não que eu não esteja acreditando em você, mas você sabe como é né?

- Sei sim, eu até acharia estranho se você acreditasse assim de cara, mas, posso te ligar amanhã?

- Pode sim, vou falar com a minha mãe, conferir tudo direitinho e se deus quiser vou para ai sexta feira!

- Ok, espero que venha mesmo, preciso de um jogador como você, adeus.

- Adeus.

Era realmente estranho, três meses depois do campeonato um suposto técnico me ligar e me propor uma viagem para uma peneira, mas nem tudo aquilo era estranho, eu tinha realmente feito um ótimo campeonato, o estranho era que ninguém tinha me procurado até aquele momento, mas aquela era a minha hora, o meu momento, eu tinha que correr atrás dos meus sonhos.

Logo depois de perceber tudo o que tinha acontecido entrei no site do Minas e verifiquei tudo o que o Ailton tinha dito, esse realmente era o nome do técnico e ele realmente tinha 24 anos de idade, e havia sim uma peneira pra minha categoria, parecia que tudo aquilo não era um sonho, e sim minha futura realidade.

Eu desci as escadas muito inseguro, porque sabia que minha mãe não ia aceitar muito bem aquela ideia, mas era meu futuro que estava em jogo, e eu não ia deixar ele passar na minha frente desse modo. ]

- Mãe, eu tenho uma coisa seria pra falar com você.

- O que é filho, aconteceu alguma coisa?

- O telefonema que eu recebi, bem, como eu vou te dizer....

- Fala logo menino, você ta me deixando nervosa!

- Ok, vou direto ao assunto, era o técnico de um time e ele esta oferecendo uma passagem pra eu ir fazer uma peneira, e se eu passar ir jogar lá no clube dele.

- Como assim meu filho! Que coisa ótima. E onde fica esse clube?

- Essa é a parte chata... Ele é técnico do Minas mãe...

- Minas! – ela parecia não saber o que dizer. – Mas... O que... Como assim? Por que ele só te ligou agora? Isso não é um golpe não?

- Ele falou que a diretoria do time dele só deixa pegar jogadores quando fazem peneiras, que são marcadas no inicio do ano, por isso ele não me ligou antes, e quanto a ser um golpe, foi a primeira coisa que eu pensei, mas eu procurei me informar e parece que é ele mesmo...

- Mas meu filho, Minas Gerais não é muito longe daqui não? Nós não teremos como nos mudar pra lá...

- Eu sei mãe, e é por isso que se eu passar eu teria que ir sozinho. – a expressão dela mudou completamente, o sorriso de felicidade e preocupação que ela estava antes, sumiu, e apareceu uma expressão de terror, como se ela estivesse perdendo alguma coisa, e ela estava, estava perdendo o filho dela.

- Sozinho? Como assim meu filho? Você só pode estar louco! Eu não vou te deixar ir pra um lugar onde você não conhece nada, só pra jogar vôlei.

- Mas mãe, eles pagam um bom salário, mesmo pra quem é da categoria de base, acho que em uns 4 meses você consegue se mudar pra lá com o dinheiro que eu te mandar.

- Sem mas, você não vai meu filho, eu não agüentaria ficar longe de você por tanto tempo...

- Mas mãe...

- O que eu disse Claus! – disse ela em tom de quem acaba uma conversa.

Eu esperava tudo da minha mãe, menos privar-me de viver um sonho, um sonho que eu tinha me esforçado muito para conseguir. Subi as escadas do meu quarto e me tranquei lá dentro. A noite foi passando e dormi o dia todo, fui para a escola como em qualquer dia normal e quando cheguei em casa minha mãe me chamou para conversar.

- Claus, meu amor, vem cá, quero conversar com você.

- O que é mãe, tenho muito dever para fazer. – menti pra não ouvir ela falando mal de mim.

- Eu pensei melhor, e acho que você deve sim ir nessa peneira, nem que seja só para fazer o teste, mas com uma condição, você tem que me prometer voltar pra cá.

- É claro que eu volto mãe, eu te amo sabia. – disse dando um abraço nela. – no mesmo momento em que disse isso o telefone tocou e eu atendi. – Alô!

- Claus? É o Ailton aqui do Minas.

- Oi Ailton, tudo bem com você?

- Tudo ótimo, pra melhorar só se você me disser que vem. – disse ele dando uma risada.

- Eu vou sim, minha mãe disse que eu posso ir, mas como nós vamos fazer com a passagem?

- Eu irei viajar para Recife na quinta e estarei voltando na sexta, tenho uns patrocinadores que são daí, te encontro no aeroporto as 10 horas da manhã, pode ser?

- Por mim está ótimo.

- Então está fechado, te espero lá, tchau.

- Tchau, boa viagem.

- Mãe, ele pediu pra eu estar no aeroporto as 10 horas de sexta feira, gostaria que você fosse até lá comigo...

- Mas é claro que eu irei, acha que vou te deixar viajar assim com alguém que eu nunca vi antes? Está muito enganado sobre mim.

- Eu já imaginava. – Abracei-a rindo. – Onde está a Gabbi?

- Ela foi a padaria daqui a pouco está chegando.

- Quando ela voltar pede pra ela subir lá no meu quarto por favro?

- Pode deixar.

Apesar de ainda ser terça feira subi para o meu quarto e comecei a arrumar as coisas que ia levar na viagem, separei minha joelheira, o estabilizador de tornozelo, as roupas que eu usava para treinar, joguei tudo em cima da minha escrivaninha, eu estava muito ansioso, era uma chance de ouro e o Ailton ainda estava confiando em mim, o que era um ótimo começo.

Por mais que eu gostasse da minha cidade, ali eu nunca conseguiria realizar meus sonhos, ali eu seria somente mais um, e não era aquilo que eu queria pra mim, e nem aquilo que eu tinha potencial para conseguir, eu sabia que podia ir muito mais alem, e era o que eu estava para fazer.

- Você vai viajar? – perguntou a Gabbi me olhando da porta.

- Que mala é essa? – reforçou o CH vendo que eu não tinha respondido.

- Vocês vão ter que saber mesmo, melhor que seja mais cedo, eu vou fazer uma peneira no Minas Tênis Clube, vou viajar sexta feira pra lá, e se deus quiser vou passar e me profissionalizar no que eu sempre quis.

- Parabéns Clauuus! Que coisa ótima, você vai realizar o seu maior sonho.

- Valeu CH, eu sabia que você ia gostar de ouvir isso, agora sua irmã ali... – disse vendo a feição da Gabbi.

- Isso quer dizer que você vai ter que ir morar em Minas? Você vai levar a gente não vai?

- Gabbi, - eu fui chegando perto dela para abraçá-la – eu sei que não vai ser fácil, pra nenhum de nós, mas agora no começo, caso eu passe, não poderei levar vocês comigo, eu não terei dinheiro pra isso, muito menos a mãe.

- Claus, você não pode abandonar a gente, eu vou sentir muito a sua falta. – ela estava começando a chorar.

- Clama Gabbi, eu nem passei ainda, quem sabe as coisas mudam até lá.

O silêncio pairou no meu quarto enquanto eu, ela e o CH nos abraçávamos. Naquela noite a Gabbi dormiu comigo e nós ficamos abraçados muito tempo, era estranho deixar a minha família pra trás, mas não era um adeus e sim um até logo.

Naquela semana eu não tinha consegui falar com a Branca, ela ia adorar saber que eu iria pra Minas, mas não tinha conseguido encontrá-la no MSN e meus créditos tinham acabado, e não consegui falar pra ela. Aquela podia ser uma chance de nós nos encontrarmos, mas parecia que não seria.

Os dias passaram rápido e logo era sexta feira, pela manhã acordei pra ir com a Gabbi para a escola, só pra passar mais tempo com ela, nos abraçamos e nos despedimos, e por mais que eu tentasse acalmá-la ela não parava de chorar.

O tempo passou rápido e quando voltei pra casa, depois de uma volta pela cidade, já estava na hora de ir para Recife. Eu e minha mãe tomamos o mesmo ônibus que eu peguei para voltar do aeroporto junto com a Branca.

O Aeroporto estava vazio para uma sexta feira, talvez porque fosse de manhã, talvez porque estava no meio do mês e ninguém tivesse o custume de viajar naquela época, por isso não foi difícil encontrar o Ailton no local onde nós tínhamos combinado, quando eu cheguei à livraria ele já estava me esperando.

- Demorei muito Ailton? – perguntei logo que o vi.

- Não, não Claus, eu é que cheguei mais cedo pro precaução, essa deve ser a famosa dona Denise não?

- Sim sou eu mesma, mas não sou famosa, mesmo assim obrigado.

- Então podemos ir para o check in? – disse ele olhando para o relógio. – Já está quase na hora.

- Acho que podemos, não é mãe?

- Claro que sim meu filho, vamos logo. – disse ela pegando pelo meu braço.

Fizemos o check in, que não demorou muito, e logo depois começamos a nos preparar para entrar na sala de embarque. Aquela não foi uma parte fácil, eu nunca tinha me despedido da minha mãe, e nunca tinha sentido a sensação de estar sozinho sem ter com quem contar.

- Fica com deus meu filho. – vai dar tudo certo, eu acredito em você.

- Obrigado mãe, eu te amo muito.

O vôo não foi dos melhores segundo o Ailton, já que eu nunca tinha andado de avião. Tínhamos pego uma turbulência logo no início e uma perto de Minas, mas nada que me deixasse em pânico.

- Claus, está preparado para começar a treinar e mostrar que tem potencial para jogar em um clube como o nosso?

- Espero que esteja, é o que mais quero hoje.

- Isso é bom, você querer já é metade do caminho andado, mas deixemos o papo de lado e vamos andando, deve ter um carro nos esperando. – disse ele indo em direção ao portão principal do aeroporto, que era muito maior que o de Pernambuco, e tinha muitas lojas e pessoas passando por todos os lados. Quando saímos, ele apontou e falou. – Ali está o carro, vamos depressa, dentro de uma hora você tem que está treinando.


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Como eu disse, sem data pra postar né, sokaoska, e esse nem tem imagem, preguiça mata,e quem reclamar dos erros de português (gabbi kk) eu escrevo de madrugada, não presto atenção kkk, brincandeira. comentem o capitulo ruim -q.

Um comentário:

Gente comente o que voces acharam, eu sei que eu não escrevo muito bem, mas faz sua critica ai.